Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

Logo Soperj

Número atual: 16(2) - Junho 2016

Editoriais

Os pais também precisam do nosso cuidado: orientações sobre o Zika vírus

 

Viviane Manso Castello Branco

 

Várias reportagens têm relatado casos de pais de bebês com microcefalia por Zika vírus que abandonaram suas famílias. É natural que notícias assim gerem indignação. No entanto, os homens não precisam de nosso julgamento, mas de nosso apoio. A paternidade afetuosa e participativa é um dos recursos mais importantes para a promoção da saúde e do desenvolvimento das crianças.

O envolvimento dos homens deve ser garantido em todas as atividades de saúde reprodutiva, antes mesmo da gravidez, como planejamento familiar e educação pré-natal. Na gestação, é importante que o pai seja explicitamente convidado para as consultas e os exames, especialmente a ultrassonografia. Dessa forma, sente-se compartilhando a gestação, o que melhora o relacionamento do casal.

Além disso, sempre que possível, deve-se realizar um atendimento específico para o homem, o pré-natal masculino. Como há poucas oportunidades de informarem-se sobre gravidez, aleitamento materno e cuidados com o bebê, os pais beneficiam-se muito dos grupos educativos para gestantes e casais grávidos.

Os pais podem contribuir muito para a proteção da gestante e do bebê. No que tange à prevenção da Zika, podem eliminar criadouros de mosquitos, mobilizar a vizinhança, instalar telas ou mosquiteiros, incentivar o uso de roupas compridas e tornar o uso do repelente um hábito da família.

A Lei Federal nº 11.108/2005 garante a presença de um acompanhante no parto. O pediatra tem um papel fundamental nesse momento, quando "cai a ficha" para a maioria dos homens. O convite ao pai para o corte do cordão umbilical fortalece o vínculo com a criança.

Os pais devem ser incentivados a acompanhar os bebês nos testes de triagem neonatal e na ultrassonografia transfontanela. Esses exames merecem especial atenção porque qualquer alteração pode resultar no encaminhamento dos bebês aos serviços de referência. Como os homens estão acostumados a não expressar seus sentimentos, muitas vezes, o profissional de saúde preocupa-se somente com a tristeza das mães.

Ao comunicar qualquer suspeita ou diagnóstico, deve-se ressaltar a importância do envolvimento e do cuidado paterno para a vida da criança, dando aos pais tarefas específicas para que se sintam valorizados. Quando os pais estiverem separados, o pediatra pode ajudar a família a buscar estratégias para o envolvimento de ambos. Esse é um direito da criança. Grupos com familiares de bebês com microcefalia também são uma importante forma de apoio às famílias, uma vez que favorecem a troca de experiências sobre os desafios do cuidado com as crianças e os impactos na vida do casal.

Neste momento tão delicado de surto de Zika vírus, a sensibilidade e o compromisso dos pediatras são fundamentais. A ampliação do envolvimento dos pais com o cuidado certamente contribuirá para melhorar a qualidade de vida dessas crianças afetadas pela doença.

 

Viviane Manso Castello Branco

Pediatra
Membro do Comitê de Adolescência da SOPERJ
Coordenadora do Movimento pela Valorização da Paternidade
Membro do GT Paternidade e Primeira Infância da RNPI

Para mais informações:
Unidade de Saúde Parceira do Pai
http://www.sbp.com.br/pdfs/Cartilha-dopai_site-versao1.pdf
Movimento pela Valorização da Paternidade
https://www.facebook.com/mesdevalorizacaodapaternidade/