Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

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Número atual: 14(1) - Outubro 2013

Artigos de Revisao

A importância do brincar para as crianças oncológicas na percepção dos cuidadores: em um hospital de referência na cidade de Belém, Estado do Pará, Brasil

The importance of play for children with cancer in the perception of caregivers, in a reference hospital in the city of Belém, Pará state, Brazil

 

Rafaela Danta de Sousa1; Lydia Laignier Schueroff2; Raiane Pereira Pessoa3; Maria de Belem Ramos Sozinho4

1. Nivel superior (estudante) Centro Universitário do Estado do Pará
2. Nivel superior (estudante) Centro Universitário do Estado do Pará
3. Ensino superior (estudante) Centro Universitário do Estado do Pará
4. Doutoranda (Professora ) Centro Universitário do Estado do Pará

 

Endereço para correspondência:

Endereço Autor principal
Rafaela Danta de Sousa
Passagem Getúlio Vargas nº177
Belém, Pará, Brasil.
Email: rafaelladanta@gmail.com

 

Resumo

O cuidado de enfermagem em Oncologia Pediátrica vem se especializando e modificando com o passar do tempo e entre as possíveis estratégias utilizadas por crianças para enfrentar condições estressantes encontra-se o brincar, recurso utilizado tanto pela criança como pelos profissionais do hospital para lidarem com as adversidades da hospitalização. O objetivo principal deste estudo é de conhecer a percepção dos cuidadores / familiares sobre a importância do brincar para as crianças com câncer.Trata-se de uma pesquisa descritiva qualitativa, o local da pesquisa foi a pediatria oncológica do Hospital Ophir Loyola os sujeitos foram de 20 cuidadores, de crianças, entre 5 a 10 anos. Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado com perguntas previamente formuladas. Os dados foram agrupados em CATEGORIA I - As brincadeiras são importantes para o tratamento das crianças oncológicas, dividiu-se em II subcategorias: I - Melhora a estima da criança, II - Reanima e fortalece a criança para aceitar o tratamento;CATEGORIA II - O envolvimento das crianças oncológicas nas brincadeiras durante o tratamento; CATEGORIA III - O envolvimento dos cuidadores / familiares nas brincadeiras com as crianças oncológicas em tratamento. De acordo com os resultados obtidos, a partir da percepção dos cuidadores,o brincar tem uma grande importância na vida das crianças, independente de seu quadro de saúde, tendo um valor ainda maior quando a criança está doente, pois traz benefícios tanto físico quanto emocionalmente para que haja uma melhor aceitação do tratamento.

Palavras-chave: criança, câncer, brincar


Abstract

Nursing care in Pediatric Oncology has specialized and changing over time and among the possible strategies used by children to cope with stressful conditions is playing, resource used by both the child and the professionals from the hospital to deal with adversity hospitalization. The main objective of this study is to find the perception of caregivers / family members about the importance of play for children with cancer. This is a descriptive qualitative research was the location of the pediatric oncology Ophir Loyola Hospital of the subjects were 20 caregivers of children aged 5 to 10 years. Data were collected using a semistructured questionnaire previously formulated. Data were grouped into CATEGORY I - The games are important for the treatment of children with cancer,divided into subcategories II:I - Improves esteem of the child, II - revives and strengthens the child to accept treatment; CATEGORY II - involvement of children in play during oncological treatment; CATEGORY III - the involvement of carers / relatives in games with children with cancer to treatment. According to the results obtained from the caregivers' perception, the play has a great importance in the lives of children, regardless of their health framework, with even greater value when your child is sick, it brings benefits both physically and emotionally so there is a greater acceptance of treatment.

Keywords: child, cancer, play

 

INTRODUÇÃO

A assistência de enfermagem prestada a crianças com câncer, geralmente, tem por base uma série de técnicas referentes à higiene, alimentação, colheta de material para exames e administração de medicação. Na maioria das vezes estes cuidados atendem apenas aos aspectos do corpo biológico, não considerando esta criança como um ser em crescimento e desenvolvimento, com determinações familiares, culturais, ambientais e econômicas1.

Entre as possíveis estratégias utilizadas por crianças para enfrentar condições estressantes encontra-se o brincar, recurso utilizado tanto pela criança como pelos profissionais do hospital para lidarem com as adversidades da hospitalização sendo também um meio de comunicação para detectar a singularidade de cada um. Do ponto de vista da criança ele promove o desenvolvimento físico, psicológico, social e moral; ajuda-a a perceber o que ocorre consigo, libera temores, raiva, frustração e ansiedade2.

O brincar ajuda a criança, ainda, a revelar seus pensamentos e sentimentos, promovendo satisfação, diversão e espontaneidade. Nessa perspectiva, a brincadeira aparece como uma possibilidade de expressão de sentimentos, preferências, receios e hábitos; fazendo assim uma mediação com o mundo familiar e situações novas ou ameaçadoras; e elaboração de experiências desconhecidas ou desagradáveis3.

Objetivo geral :Conhecer a percepção dos cuidadores / familiares sobre a importância do brincar para as crianças com câncer. Objetivos específicos - Verificar com cuidadores / familiares se as crianças participam das brincadeiras; Identificar se os cuidadores / familiares participam das brincadeiras com as crianças; Avaliar junto aos cuidadores / familiares se houve uma melhora no quadro de saúde dessas crianças.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Todos os pacientes da presente pesquisa foram estudados segundo as Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde após aprovação de anteprojeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Estado do Pará.

O presente estudo busca identificar a percepção dos cuidadores/familiares sobre a importância do brincar para uma melhoria no quadro de saúde das crianças com câncer, considerando a sua vivência no âmbito emocional, físico e social. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, de abordagem qualitativa, uma vez que aborda o subjetivo, a importância do brincar para as crianças com câncer na visão dos cuidadores/familiares, não podendo estes dados ficar restritos ao referencial quantitativo. A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito.

O ambiente da pesquisa foi o setor pediátrico e a brinquedoteca do Hospital Ophir Loyola, referência em oncologia em Belém-Pa. O setor da pediatria oncológica é composto por dezoito leitos com cinco enfermarias, um isolamento, uma semi-intensiva, fazendo parte também o hospital DIA com oito leitos e uma sala de hemoterapia e quimioterapia, onde se encontra uma videoteca com uma sala de aula para as crianças.

Participaram da pesquisa, 20 cuidadores/ familiares maiores de 18 anos, de crianças, na faixa etária de 5 a 10 anos, internadas no setor de oncologia pediátrica, que contribuíram para a realização da entrevista, que concordaram em colaborar com a pesquisa mediante assinatura do termo de consentimento Livre e Esclarecido. Os sujeitos da pesquisa foram mantidos no anonimato, sendo atribuídos pseudônimos representados pela letra C, referente à cuidador, em algarismos árabes crescentes (C1, C2, C3, etc.).

Foram incluídos cuidadores/familiares maiores de 18 anos, de crianças na faixa etária de 5 a 10 anos de idade, que estavam em condições de participar de atividades lúdicas. Foram excluídos cuidadores/familiares menores de 18 anos, os que se recusaram a participar da pesquisa, crianças menores de 5 anos ou maiores de 10 anos de idade. E foram excluídas 3 crianças que não estavam em condições de participar das atividades, devido ao seu grave estado de saúde.

Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado com perguntas previamente formuladas, que valorizam a presença do entrevistado, permitindo que ele possa expressar sua opinião, que visam identificar dados que caracterizam as condições em que as crianças se encontram. Com autorização dos participantes as entrevistas foram gravadas e imediatamente transcritas para identificar o momento que encerra a coleta após atingir o ponto de saturação, e posteriormente apagar as gravações.

 

RESULTADOS

Para proceder à análise dos dados fizemos uso da técnica da analise temática, que segundo Minayo consiste em três etapas, pré-análise, exploração do material e por fim o agrupamento das respostas dos sujeitos entrevistados.

Seguindo as etapas citadas nas metodologias, de acordo com Minayo, os dados foram agrupados e organizados em III categorias e II subcategorias: CATEGORIA I - As brincadeiras são importantes para o tratamento das crianças oncológicas, dividiu-se em II subcategorias: I - Melhora a estima da criança, II - Reanima e fortalece a criança para aceitar o tratamento; CATEGORIA II - O envolvimento das crianças oncológicas nas brincadeiras durante o tratamento; CATEGORIA III - O envolvimento dos cuidadores / familiares nas brincadeiras com as crianças oncológicas em tratamento.

 

CATEGORIA I - AS BRINCADEIRAS SÃO IMPORTANTES PARA O TRATAMENTO DAS CRIANÇAS ONCOLÓGICAS

Durante a entrevista feita aos cuidadores/ familiares, percebe-se que as brincadeiras são importantes porque melhoram a estima e estimulam as crianças e os cuidadores/familiares, e as crianças também se distraem. O brincar é uma necessidade tanto da criança saudável quanto em processo de adoecimento, sendo importante para seu desenvolvimento, fortalece em aceitar o tratamento por causa dos brinquedos e brincadeiras. De acordo com as falas dos entrevistados, dividiu-se em duas subcategorias:

Subcategoria I: Melhora a estima da criança

A partir da entrevista, notamos o quanto é importante às brincadeiras paras as crianças oncológicas, por que independente do quadro em que a criança encontre-se, estando doente ou não, a brincadeira faz parte da sua vida, sendo importante para o seu desenvolvimento, e então no momento em que elas estão hospitalizadas, aumenta ainda mais a sua importância, para que haja uma melhora da autoestima ajudando na distração. Como podemos ver nas falas dos entrevistados:

"Sim, com certeza, ela gosta de jogos, quando a brinquedoteca está fechada e não tem brincadeiras, ela fica triste". (C1)

"No início, minha filha ficava triste, mas depois que ela começou a brincar e a interagir, ela começou a ficar mais animadinha e alegre". (C2)

"Sim, estima mais, tira a tristeza dela e da gente também". (C4)

"Sim, porque ele se distrai né? É bom, brincar, distrair, é uma diversão". (C6) É na brincadeira que a criança consegue vencer seus limites e passa a vivenciar experiências que vão além de sua idade e realidade, fazendo com que ela desenvolva sua consciência. Dessa forma, é na brincadeira que se pode propor à criança desafios e questões que a façam refletir, propor soluções e resolver problemas. Brincando, elas podem desenvolver sua imaginação, além de criar e respeitar regras de organização e convivência, que serão, no futuro, utilizadas para a compreensão da realidade. A brincadeira permite também o desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o desenvolvimento físico-motor, bem como o do raciocínio e o da inteligência.4/4.1

Subcategoria II: Reanima e fortalece a criança para aceitar o tratamento

De acordo com as entrevistas, podemos perceber o quanto o brincar trás benefícios em relação à melhora do tratamento das crianças oncológicas, pois a partir das brincadeiras, elas se animam, percebe-se que as brincadeiras são importantes para a distração das crianças oncológicas hospitalizadas, porque o hospital passa uma imagem de um lugar triste e amedrontador, deixando-as assustadas e traumatizadas. A partir daí, as brincadeiras fazem com que elas se tornem mais alegres e interagem-se com as outras crianças facilitando o tratamento, ajudando na aceitação da realização dos procedimentos que são feitos neles durante a hospitalização.

"Reanima a criança, a deixa mais animada até para aceitar o tratamento, é muito difícil viver aqui no hospital, a criança chora muito para ir pra casa". (C5)

"Com certeza, devido o ambiente que é aqui e ele também tem muito medo e trauma de injeção, no começo ele chorava muito, então agora, ele já está se adaptando por causa dos brinquedos, ele está mais feliz e ajudou muito no tratamento". (C8)

"São muito importantes, porque elas ficam distraídas, fortalece para elas não ficarem desanimadas, é muito importante, espero que nunca falte". (C9)

O brinquedo tem importante valor terapêutico, influenciando no restabelecimento físico e emocional, tornando o processo de hospitalização menos traumatizante e mais alegre, fornecendo melhores condições para a recuperação. Com o lúdico as crianças passam a alimentar-se melhor, ficam mais falantes, aceitam melhor os procedimentos hospitalares como medicação e exames, comunicam-se melhor com os profissionais e pais.5

 

CATEGORIA II - O ENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS ONCOLÓGICAS NAS BRINCADEIRAS DURANTE O TRATAMENTO

Nas respostas obtidas a partir das entrevistas pode-se perceber que as crianças se envolvem nas brincadeiras, e com isso começam a interagir umas com as outras, facilitando assim para o alivio dos procedimentos. Sabe-se que atividade lúdica deve envolver trocas de experiências entre os pacientes e os profissionais que estão prestando cuidado, procurando assim, ter um maior compromisso com o tratamento, facilitando o processo de recuperação da saúde dessas crianças. Como podemos observar nas falas dos entrevistados:

Quando ela não está com a irmã dela brincando, ela arruma a boneca, corta o cabelo, pinta de canetinha". (C1)

"Com certeza, em todas, ela faz perguntas, ela brinca, a minha bebê faz com que as crianças brinquem também". (C2)

A perspectiva da utilização do brinquedo em Enfermagem Pediátrica é a de servir como meio de comunicação entre os profissionais e a criança e detectar a singularidade de cada uma. Do ponto de vista da criança ele promove o desenvolvimento físico, psicológico, social e moral; ajuda-a a perceber o que ocorre consigo, libera temores, raiva, frustração e ansiedade. Ajuda a criança, ainda, a revelar seus pensamentos e sentimentos, promovendo satisfação, diversão e espontaneidade. Assim, brincando ele exercita suas potencialidades.2

 

CATEGORIA III - O ENVOLVIMENTO DOS CUIDADORES / FAMILIARES NAS BRINCADEIRAS COM AS CRIANÇAS ONCOLÓGICAS EM TRATAMENTO

Percebemos que os cuidadores/familiares tem grande participação nas atividades lúdicas realizadas dentro do hospital durante a hospitalização e que eles incentivam seus filhos a interagir não só com os brinquedos, mas também com as outras crianças e brincam junto de quebra-cabeças, dominó, bonequinhas, carrinhos, vídeo game e durante isso, vai orientando e estimulando, criando um vínculo para que possam a partir das brincadeiras, proporcionar trocas de experiências e vivencias e assim, enfrentarem juntos o tratamento. Como podemos observar nas falas dos entrevistados:

"Sim, desenhando, pintando, com bonequinho, brinco com quebra-cabeça, dominó, vídeo game, ele gosta muito disso, quando a brinquedoteca está aberta, ele não quer sair de lá, agente se distrai, conversa, brinca junto aí eu brinco com ele". (C1)

"Sim, na maioria das vezes eu fico sentado no chão, ele empurra o carrinho pra mim, eu empurro pra ele e fica nessa alegria toda, ele me faz de poste e assim agente brinca". (C2)

"Sim, participo também, acompanho e oriento do que deve e o que não deve fazer, às vezes ele fica tímido pra falar, mas logo vai se soltando, não saio de perto, brinco eu mesma com ele." (C4)

A criança com câncer incentivada pela família e auxiliada pelo brincar vai aos poucos, transformando sua existência. Tanto a criança quanto a família, percebem que ao brincar e ao relacionar-se com a pessoa que brinca tendo a brinquedoteca como meio de comunicação, a criança sente-se acolhida diante da facticidade da doença.5

 

CONCLUSÃO

A partir da nossa pesquisa, podemos observar que a hospitalização é um período estressor não só para as crianças, mas também sua família, sendo que o brincar é um recurso utilizado para que elas continuem tendo um cotidiano como as outras crianças fora do ambiente hospitalar. E a equipe de enfermagem que tem um contato maior com o paciente, deve ter uma visão holística podendo entender que o brincar no hospital pode ajudar, tornando o processo de hospitalização menos traumatizante. De acordo com os resultados obtidos, a partir da percepção dos cuidadores, o brincar tem uma grande importância na vida das crianças, independente de seu quadro de saúde, tendo um valor ainda maior quando a criança está doente, pois traz benefícios tanto físico quanto emocionalmente para que haja uma melhor aceitação do tratamento.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. LIMA, RAG; ROCHA, SMM; TONE, LG. O câncer infantil: caracterização da população atendida em um hospital - escola como subsídios para a assistência de enfermagem. Medicina, v.26, n.4, p.627-35, 1993.

2. SILVA, SH; JESUS, IC; SANTOS, RM. Humanização em Pediatria: O brinquedo como recurso na assistência de enfermagem à criança hospitalizada. Ribeirão Preto- SP, 2010. Curso de Enfermagem da Universidade Paulista - UNIP - Campus Ribeirão Preto, 2010.

3. MITRE, RMA; GOMES, R; ROZA, S. A promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde. Pós-Graduação do Instituto Fernandes Figueiras, Fiocruz, Rio de Janeiro, 2004.

4. VYGOTSKY, LS. apud BORBA, AM. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Brasil MEC/ SEB. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade/organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. _ Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. p. 35. 4.1 -WAJSKOP, G .Brincar na pré-escola. 7. ed- São Paulo: Cortez, 2007.

5. MELLO, LL; VALLE ERM.Psicol arg vol 23 n.40 p. 43-48, 2005.

6. MINAYO, MC. O desafio do conhecimento: pesquiSa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec; 2004.