Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

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Número atual: 21(3) - Dezembro 2021

Artigo Original

Prevalência do aleitamento materno e fatores relacionados ao desmame precoce em crianças de 0-1 ano de idade, em hospital na zona norte da cidade de São Paulo

Breastfeeding prevalence and factors related to early weaning in 0-1 year-old children in a hospital of the Northern Zone of Sao Paulo

 

Karyn Chacon Melo Freire de Castro; Larissa De Pietro Furini; Aline Niero De Carvalho; Ana Karen Ibarra Rodriguez; Evelyn Lizett Quinteros Salazar; Fátima Regina de Almeida Patiño; Gabriela Alves Loyo; Jaqueline Da Silva Cota; Mitzi Perez Morales

 

DOI:10.31365/issn.2595-1769.v21i3p114-122

Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Pediatria - São Paulo - São Paulo - Brasil

 

Endereço para correspondência:

kachacon@uol.com.br

Recebido em: 21/09/2020
Aprovado em: 04/06/2021


Instituição: Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Pediatria - São Paulo - São Paulo - Brasil

 

Resumo

No Brasil, a maioria das mulheres iniciam o aleitamento materno (AM) na primeira hora de vida, porém mais da metade suspendem o aleitamento materno exclusivo (AME) no primeiro mês. Nosso objetivo foi avaliar a prevalência do AM e identificar fatores relacionados ao desmame precoce. Estudo observacional transversal, com 451 pacientes de 0-12 meses, de setembro de 2017 a agosto de 2018. Critérios de inclusão: crianças de 0-12 meses. Foram excluídos: crianças com doenças neurológicas e cardíacas, institucionalizadas, mães sabidamente portadoras do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e do Vírus T-linfotrópico Humano (HTLV). Obtidos 451 pacientes, média de idade de 147,7 dias. O AME foi de 7 % até os 6 meses e a duração do AM foi de 91,8 dias. Identificamos que mães que frequentavam Unidade Básica de Saúde - UBS (p<0,001), que amamentaram anteriormente (p=0,028), introduziram alimentos sólidos aos 6 meses ou após (p< 0,001) tiveram maior tempo de AME. Mães jovens (p=0,015), usuárias de drogas (p<0,001), o uso de chupetas e mamadeiras (p= 0,001 e 0,033 respectivamente), os pré-termos (p=0,001), a introdução de fórmula láctea (p<0,001) e uso de leite de vaca integral (p=0,042) foram as variáveis relacionadas ao menor tempo de AM. As causas do desmame precoce identificadas podem ser evitadas com as orientações dos profissionais de saúde. Uma melhoria na qualidade da assistência à saúde materno-infantil é de extrema importância para o aumento nos índices do AM.

Palavras-chave: Aleitamento Materno. Desmame. Pediatria.


Abstract

In Brazil, most women start breastfeeding in the first hour of life, but more than half suspend exclusive breastfeeding in the first month. We aimed to assess the prevalence of BF and to identify factors related to early weaning. Cross-sectional observational study of 451 patients aged 0-12 months, from September 2017 to August 2018. Inclusion criteria: children aged 0-12 months. The following were excluded: neurological and cardiac diseases, institutionalized, mothers known to have Human Immunodeficiency Virus (HIV) and Human T-lymphotropic Virus (HTLV). Obtained 451 patients, mean age 147.7 days. The exclusivebreastfeeding was 7% up to 6 months and duration of breastfeeding was 91.8 days. We identified that mothers who attended in Primary Health Unit (p <0.001), who previously breastfed (p = 0.028), introduced solid foods at 6 months or after (p <0.001) had longer exclusive breastfeeding time. Young mothers (p = 0.015), drug users (p <0.001), the use of pacifiers and baby bottles (p = 0.001 and 0.033, respectively), preterm infants (p = 0.001), the introduction of milk formula (p <0.001) and use of whole cow milk (p = 0.042) were the variables related to shorter breastfeeding time. The causes of early weaning identified can be avoided with the advice of health professionals. An improvement in the quality of maternal and child health care is extremely important for the increase in breastfeeding rates.

Keywords: Breast Feeding. Weaning. Pediatrics.

 

INTRODUÇÃO

A amamentação é a maior intervenção na redução da morbi-mortalidade infantil, trazendo inúmeros benefícios às mães e crianças.1,2 A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Ministério da Saúde do Brasil (MS) recomendam que a amamentação seja exclusiva nos primeiros 6 meses de vida e complementada até 2 anos de idade ou mais.1

Segundo dados da II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, o Brasil ainda está muito aquém das recomendações da OMS. A duração mediana do aleitamento materno exclusivo (AME) foi de 54,1 dias (1,8 meses) e a da amamentação foi de 341,6 dias (11,2 meses), mostrando que 41% das crianças menores de 6 meses estavam em AME, quando o desejado pela OMS é que 90% a 100% recebam essa alimentação.3

O desmame precoce é consequência da inserção da mulher no mercado de trabalho, da intensa propaganda dos leites industrializados e do uso de bicos artificiais.4,6 A idade materna, a experiência anterior com amamentação, as orientações do profissional de saúde no pré-natal, no pós-parto e na puericultura são fatores que podem influenciar o desmame.5,7

Este estudo tem como objetivo identificar a prevalência de aleitamento materno (AM) em crianças de até um ano de idade internadas na enfermaria de um hospital estadual da zona norte de São Paulo e avaliar os fatores que podem influenciar no desmame precoce.

 

METODOLOGIA

Estudo observacional transversal realizado através de aplicação de questionário às mães de crianças de até 1 ano de idade, internadas na enfermaria de um hospital terciário no período de 16/09/2017 a 24/08/2018.

O critério de inclusão foram todas as crianças de 0-1 ano de idade internadas na enfermaria de pediatria no período citado. Os de exclusão foram: pacientes com doenças neurológicas, cardíacas, institucionalizados e os filhos de mães sabidamente portadoras de HIV e HTLV. As reinternações não foram incluídas na pesquisa. As mães que não aceitaram participar da pesquisa foram consideradas como perdas, totalizando 4%.

No momento da internação, foi explicado à mãe a pesquisa e após o seu consentimento, foi aplicado um questionário com 37 questões, com o objetivo de investigar a prevalência do aleitamento materno. O inquérito continha dados referentes à identificação do paciente, como: idade, sexo, nacionalidade; dados maternos como: idade, estado civil, religião, escolaridade, uso de drogas ilícitas, tabagismo e etilismo, número de filhos e sobre a experiência anterior de amamentação. A avaliação socioeconômica foi composta por informações sobre: ocupação materna e paterna, renda familiar e a presença ou não de ajuda de programas sociais.

A segunda parte era composta por dados sobre antecedentes perinatais, calendário vacinal e internações. Compunham dados perinatais: realização de pré-natal (mínimo 6 consultas), informações sobre o tipo de parto, idade gestacional, peso de nascimento. Dados como a realização de consultas de rotina em Unidade Básica de Saúde (UBS), atualização vacinal e internações também foram pesquisadas, sendo a atual também contabilizada. O AM foi investigado através de informações como: amamentação na primeira hora de vida, orientações sobre as técnicas e fontes destas orientações, o tempo e o período de aleitamento exclusivo e a utilização de bicos artificiais. A introdução de alimentos sólidos, leite de vaca integral (LVI), fórmulas infantis e seu preparo foram as variáveis pesquisadas.

Dados antropométricos foram verificados através de uma única medida pelos membros do estudo, no ato da internação, de acordo com as normas do MS. O peso e a estatura foram obtidos com a criança devidamente despida, na balança eletrônica pediátrica portátil, calibrada, com capacidade 10-15 kg da marca MIC Baby ou Mobile Baby, e na régua antropométrica pediátrica portátil de 105 cm. Após as medidas, foi utilizado o programa software Anthro, que é em calculadora antropométrica para avaliação nutricional do indivíduo utilizando como parâmetro o gráfico de peso x estatura, seguindo os pontos de corte do escore-z (magreza acentuada, magreza, eutrofia, risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade).

Os dados do questionário foram passados à planilha do Excel e foram analisados pelo software R versão 3.5.1. O banco de dados continha informações de 483 pacientes, dentre os quais 18 se recusaram a responder, outros 13 foram desconsiderados por serem reinternações e um questionário foi inutilizado por não estar preenchido adequadamente, restando 451 observações válidas.

Os dados foram descritos por tabelas de frequências absolutas e relativas para variáveis categóricas, médias e desvios padrão para variáveis contínuas. Comparações entre variáveis categóricas duas a duas foram realizadas pelo teste Qui-quadrado e comparações entre escalas das variáveis contínuas entre dois grupos pelo teste de t-Student. Quando as variáveis de comparação avaliavam três ou mais grupos, utilizou-se ANOVA para comparar as médias entre os grupos. Os testes consideraram nível de significância de 5%.

A pesquisa foi aprovada em 22 de setembro de 2017 pelo Comitê de Ética em pesquisa do Conjunto Hospitalar do Mandaqui (CAAE 75105317.1.0000.5551). O termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue às mães e devolvidos devidamente preenchidos e assinados, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n°196/1996.

 

RESULTADOS

Obtivemos 451 questionários, 38,8% (n = 175) das crianças tinham menos de 2 meses de idade, 10,1% (n = 46) de 90 a 120 dias de vida, 15,07% (n = 68) entre 121 a 180 dias e 35,9% (n = 162) maiores de 6 meses. Amostra foi composta por brasileiros (99,3%), meninos (57,6%), com idade média de 147,7 dias de vida.

Em relação às variáveis maternas, 81,8% das mães tinham idade igual ou superior a 21 anos, 60,8% eram casadas ou tinham união estável, 85,6% realizaram pré-natal, 68,2% amamentaram na primeira hora de vida, 81,8% foram orientadas sobre técnicas de amamentação e 58,2% já haviam amamentado anteriormente. Quanto aos bebês, 63,1% usavam chupeta, 69,9% mamadeira, 80,8% tinham vacina atualizada, 82,3% frequentavam UBS.

Quanto ao aleitamento, 416 receberam AME, sendo que apenas 7% o realizaram exclusivamente, por pelo menos 6 meses. A duração do AM foi de 91,8 dias, 59,2% dos bebês começaram a usar fórmula no primeiro mês de vida e 56,9% iniciaram leite de vaca integral antes dos 6 meses.

A tabela 1 mostra que mães empregadas amamentaram exclusivamente em um percentual menor por um período maior ou igual a 6 meses (31%) comparadas àquelas que amamentaram de 0-2 meses e 3-5 meses (40,2% e 53%, respectivamente), p= 0,026. Outra variável significante foi a regularidade nas consultas em UBS, p<0,001, identificando as crianças que frequentavam a UBS como aquelas com mais tempo de AME. O uso de chupeta influiu significantemente (p=0,017) no AME, sendo aqueles que amamentaram exclusivamente por maior tempo os que menos utilizaram o bico artificial.

 

 

A tabela 2 relaciona algumas variáveis com o período de AME. Observa-se que o fato de a mãe ter amamentado anteriormente relacionou-se com maior tempo de aleitamento exclusivo (p = 0,028). Dado interessante foi que 272 crianças com AME suspenso antes dos 2 meses, a média de aleitamento materno foi significantemente menor, 51,2 dias. Quanto à introdução de alimentos sólidos, observamos que mães que os introduziram a partir dos 6 meses foram as que mais tempo realizaram AME (92,6%) ,p<0,001. A introdução de fórmula láctea e a utilização do leite de vaca também mostraram significância estatística (p<0,001), mostrando que a introdução precoce dos mesmos se associou ao menor tempo de AME.

 

 

Na tabela 3, avaliamos o tempo de AM. Quando comparamos a idade materna ao tempo de aleitamento, houve significância (p=0,015). Observou-se que as mães mais jovens tiveram menos tempo de aleitamento materno. O estado civil foi outra variável significante (p=0,009), mostrando que mães casadas ou com união estável foram as que amamentaram por mais tempo. Quanto aos vícios, mulheres que nunca amamentaram tiveram prevalência maior de uso de drogas ilícitas (n = 8), e nenhuma amamentou mais de 120 dias (p<0,001). Mães que realizaram o pré-natal mantinham AM por mais tempo (p<0,001). O uso de chupetas e mamadeiras mostrou significância estatística (p = 0,001 e p = 0,033, respectivamente). Aquelas que não tiveram AM, 66,7% utilizaram chupeta comparadas a 39,3% das que amamentaram por mais de 180 dias. Outras variáveis como idade gestacional e frequência à UBS também evidenciaram significância estatística (p=0,001 e < 0,001, respectivamente), demonstrando relação com tempo de AM.

 

 

A tabela 4 mostra que a variável "mamou na primeira hora de vida" traduziu maior aderência ao AM para mães que ofertaram seio já na primeira hora de vida (p < 0,001). Mães que amamentaram na primeira hora de vida mostraram um percentual maior de AM até 120 dias (71,3%). Comparando o AME com o tempo de AM, aquelas com AME entre 3-5 meses foram as que mais tempo amamentaram (p < 0,001).

 

 

Nossos resultados identificaram que mães que introduziram os alimentos sólidos a partir dos 6 meses foram aquelas que amamentaram por um período maior (p=0,006). Em relação à introdução de fórmula láctea, quanto mais precoce foi sua introdução, menor a duração do aleitamento materno (p < 0,001). A comparação das variáveis leite de vaca integral e tempo de AM também foi significante (p=0,042); observou-se que quanto mais precoce a introdução, menos tempo de aleitamento.

Com relação ao peso de nascimento, a maior parte dos bebês que mantiveram AM por mais tempo foram os que nasceram com peso entre 2,5 kg-3,9 kg.

 

DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência do AM em crianças de 0-1 ano de idade, no período de 16/09/2017 a 24/08/18, internadas na enfermaria da pediatria de um hospital terciário que não faz parte do programa Hospital Amigo da Criança, localizado na zona norte do estado de São Paulo. O estudo verificou que a prevalência de crianças que mamaram na primeira hora de vida (68,2%) foi maior que os índices observados em São Paulo (62,4%), e que a média nacional (67,7%), quando comparados à II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal.3 Este dado pode estar relacionado à implementação de novas estratégias de promoção ao AM nas diferentes maternidades, o que foi corroborado pelo percentual de 81,8% de mães que referiram ter recebido orientações sobre técnicas de amamentação.10 Silva et al.5 mostraram uma prevalência de 60,2 % de AM na primeira hora de vida; já nossos dados identificaram que as crianças que tiveram AM na 1a hora de vida foram aquelas que tiveram maior tempo de AME e duração do AM. Neves et al.,8 avaliando AME na Amazônia e Nordeste, identificaram que o aleitamento materno na primeira hora de vida funcionou como fator protetor ao AME . O mesmo foi observado por Ramos et al.,9 no Piauí, onde o aleitamento foi significativamente maior entre as crianças que foram amamentadas no primeiro dia de vida.

Quanto ao AME, este estudo evidenciou uma taxa mínima de AME até seis meses ou mais (7%), dado que vai contra a recomendação da OMS, que orienta nesta idade apenas LM.26 Este resultado pode ter sido influenciado pelo desenho do estudo, pois a maioria dos participantes eram bebês menores que 5 meses. Dado que valida esta teoria é o maior percentual de crianças amamentadas exclusivamente até o 5º mês (27,5%), que entretanto ainda continua sendo muito inferior ao esperado.

Verificamos que a média de duração do AM em menores de um ano foi de 91,8 dias, dado inferior à média estadual e nacional de 292,82 e 341,59 dias, respectivamente.3 Identificamos, ainda, que 58,2% das mães haviam amamentado anteriormente e 72,4% daquelas que amamentaram por 6 meses ou mais haviam amamentado em gestações anteriores. A amamentação, quando bem-sucedida e encarada como um acontecimento positivo, pode funcionar como fator protetor frente à experiência do AM.11,26

Observamos que mães empregadas amamentaram exclusivamente até 6 meses num percentual menor, apresentando um risco de desmame entre 3-5 meses (53%). Damião et al.12 encontraram associação negativa entre AME e trabalho materno (OR= 0,59) e Queluz et al.13 observaram que mães que trabalhavam fora sem licença maternidade, apresentavam maior chance de interrupção do AME. Quanto à idade materna, mães menores de 20 anos tiveram menor frequência de AM. Quadros et al.,14 em 2016, observaram que a maior prevalência de amamentação ocorreu nas idades de 31-40 anos, declinando em mães menores de 20 anos para 9,5% e nas maiores de 40 anos para 4,2%, fato que mostra que as idades intermediárias parecem ter um caráter protetor para AM.

A fórmula láctea foi introduzida precocemente nos bebês, e o maior percentual de início de fórmulas infantis ocorreu em crianças menores de 1 mês (59%). Quanto mais precoce o início de fórmulas lácteas, menor a duração do AM, dado corroborado por Saldanha et al.,15 que identificaram consumo de 74,2% de leite integral em crianças de 6-11 meses. Carvalho et al.,16 em uma coorte, observaram redução do consumo de leite materno (LM) ou predominante, diferentemente do leite de vaca (LV) e fórmulas lácteas, que apresentaram comportamento ascendente. Bortolini et al.17 também identificaram o leite de vaca como principal substituto do LM.

As mães que realizaram o pré-natal adequadamente foram as que mais amamentaram (85,6%) e por mais que 180 dias. No Rio de Janeiro, Domingues et al.,18 avaliando o pré-natal no SUS, concluíram que as gestantes que tinham um número menor de consultas não recebiam orientação adequada quanto à amamentação.

Percebemos que 98,2% dos bebês que amamentaram entre 121-180 dias frequentaram as consultas de rotina, enquanto que dos bebês que nunca amamentaram, somente 77,8% frequentaram UBS. Este dado reforça a ideia de uma estratégia nacional de incentivo ao AM ter como base o fortalecimento das ações nas UBS.1,19

Outra variável que está fortemente relacionada com a manutenção do aleitamento materno é o peso ao nascer, pois mostra as condições do pré-natal, a nutrição intrauterina e a sobrevida infantil.20 Observamos que crianças que apresentaram menor peso ao nascimento mantiveram AM por menos tempo, resultado descrito também por Chaves et al.20 Baptista et al.21 identificaram que o risco de interrupção do AM nas crianças com peso ao nascimento inferior ou igual a 2,5 kg foi aproximadamente quatro vezes maior do que aquelas com peso superior a 2,5kg. Também verificamos que os prematuros tiveram menos tempo de AM, dado que pode ser justificado pelas dificuldades experimentadas durante a internação hospitalar e o início tardio do AM neste grupo de pacientes.22

Sobre o estado civil, observou-se que as mães solteiras ou divorciadas amamentaram por menos tempo, resultado semelhante ao encontrado por Margotti e Margotti,27 que relacionaram a estabilidade conjugal ao AME. Rocci e Fernandes,23 em uma coorte, observaram que a maioria das mulheres que amamentaram (70,3%) tinham companheiro fixo, mas a análise dos dados não mostrou correlação entre tempo de AM e o estado civil.

O uso de chupetas e mamadeiras tiveram significância estatística (p = 0,001 e p = 0,033, respectivamente) em nosso estudo, relacionando seu uso ao desmame. Vieira et al.,24 comparando grupo de crianças amamentadas e não amamentadas, identificaram prevalência maior do uso de chupetas naquelas não amamentadas. Batista et al.25 demonstraram que bebês que usam chupeta e/ou mamadeira apresentam maior frequência de indicadores de dificuldades na amamentação.

Uma dificuldade na análise dos nossos dados foi o fato de não termos investigado, em nosso questionário, o período em que foram introduzidos e mantidos os bicos artificiais e as relações das causas das internações com o aleitamento. Vale ressaltar que, apesar do rigor na coleta dos dados, nosso estudo tem limitações, por se tratar de um estudo transversal com viés de memória.

 

CONCLUSÃO

A prevalência do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses em nosso estudo foi de apenas 7%, e a duração do AM foi de 91,8 dias, índice muito abaixo do recomendado pela OMS. O sistema de saúde tem papel importante na amamentação, pois as mães que realizaram pré-natal adequado, que amamentaram na primeira hora de vida, que frequentavam UBS e com vacina atualizada tiveram maior duração do tempo de amamentação.

A introdução precoce de fórmulas lácteas, leite de vaca integral, alimentos sólidos e utilização de bicos artificiais foram relacionados com menor tempo de aleitamento. Alguns fatores relacionados ao desmame precoce foram: uso de drogas ilícitas, mães jovens, solteiras e desempregadas.

As causas do desmame precoce podem ser evitadas com orientações prestadas pelos profissionais de saúde. A ampliação dos conhecimentos sobre fatores que interferem na amamentação pode servir de subsídio para políticas de saúde pública, e a melhoria da assistência à saúde materno-infantil pode ser uma medida de extrema importância para aumentar os índices do aleitamento materno.

 

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