Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

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Número atual: 17(3) - Outubro 2017

Editoriais

Comportamento de risco do adolescente

 

Giuseppe Pastura

Mestre e Doutor em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-Doutor pela Würzburg Universität, Alemanha. Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

 

O que explica o comportamento arriscado do adolescente? Por que os jovens de 10 a 20 anos tomam decisões que, muitas vezes, colocam suas vidas em risco? Por que bebem tanto? Por que se envolvem em número tão alto de acidentes automobilísticos?

A literatura é bastante consistente em relação ao incremento na morbimortalidade1 nessa faixa etária e os mecanismos neurobiológicos subjacentes a esse quadro têm se tornado alvo de um número expressivo de pesquisas nos últimos anos. Uma explicação frequentemente utilizada, mas que carece de base científica, é a maior impulsividade desses jovens na busca por sensações. A impulsividade possui trajetória temporal diversa daquela exibida pela busca de prazer, uma vez que a primeira cai constantemente a partir de 12 anos de idade, enquanto que a segunda cresce até os 14 anos, antes de declinar.

Outro ponto comumente admitido como causa do comportamento de risco é a incapacidade de o adolescente reconhecer situações de risco. Mero engano. Os jovens possuem maior capacidade de identificação de risco do que os adultos, porém têm uma menor aversão a situações de ambiguidade, em que existe risco real de acidentes.2

Um aspecto que também merece ser valorizado é o papel do grupo na tomada de decisões de risco. Diversos trabalhos têm demonstrado que os jovens tomam decisões de maior risco sempre que estimulados pelo grupo, e a mesma decisão não ocorre quando o indivíduo passa por idêntica situação, porém, sozinho.3

As teorias mais recentes tendem a explicar a tomada de decisões de risco do adolescente como um desbalanço entre o amadurecimento precoce das regiões relacionadas à busca por sensações - região límbica - e o amadurecimento tardio das regiões relacionadas às funções executivas e de controle de comportamento - córtex pré-frontal. Esta correlação imperfeita de forças costuma ser mais evidente no sexo masculino, provavelmente devido à ação da testosterona. Estudos recentes evidenciam que esse hormônio, em conjunto com o cortisol, é responsável por modificações na estrutura cerebral e no desenvolvimento neuronal no cérebro. Neurônios sob o efeito da testosterona possuem maior diâmetro e maior capacidade de transmissão de informações.

Existe alguma vantagem adaptativa nesse comportamento arriscado dos jovens? Curiosamente, as atitudes impetuosas dos adolescentes do sexo masculino tendem a colocá-los em posição de maior atratividade para as futuras pretendentes do sexo feminino, como demonstram pesquisas antropológicas realizadas com tribos brasileiras e africanas.

Por fim, é importante salientar o relevante papel do sono na tomada de decisões arriscadas por parte dos adolescentes. Uma regulação imperfeita do ciclo sono-vigília pode levar a alterações nos mecanismos de recompensa no sistema límbico com consequente aumento na busca por sensações agradáveis e incremento no uso de álcool.4

E o que pode ser feito para minimizar esse problema? Não existe uma resposta fácil para a questão. Alguns estudos têm demonstrado que o fortalecimento das relações familiares por meio de atitudes simples, como realizar as principais refeições juntos, possui efeitos benéficos para a saúde mental dos indivíduos. Da mesma forma, as redes de relacionamento virtual podem ser utilizadas para o envio de mensagens de comportamento responsável e seguro, reduzindo a frequência de atitudes que possam trazer risco para o adolescente. Entretanto, cabe ressaltar que, infelizmente, leva tempo para que o jovem se desenvolva e passe a fazer julgamentos maduros frente às questões da vida diária.

 

REFERÊNCIAS

1 Willoughby T, Good M, Adachi PJ, Hamza C, Tavernier R. Examining the link between adolescent brain development and risk taking from a social-developmental perspective. Brain Cogn. 2013;83(3):315-23.

2 Tymula A, Rosenberg Belmaker LA, Roy AK, Ruderman L, Manson K, Glimcher PW et al. Adolescents' risk-taking behavior is driven by tolerance to ambiguity. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012;109(42):17135-40.

3 Peake SJ, Dishion TJ, Stormshak EA, Moore WE, Pfeifer JH. Risk-taking and social exclusion in adolescence: neural mechanisms underlying peer influences on decision-making. Neuroimage. 2013;82:23-34.

4 Hasler BP, Soehner AM, Clark DB. Sleep and circadian contributions to adolescent alcohol use disorder. Alcohol. 2015;49(4):377-87.