Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

Logo Soperj

Número atual: 16(supl 1)(3) -  2016

Gastroenterologia

PSEUDOLITIASE BILIAR SECUNDÁRIA AO CEFTRIAXONE - UMA ENTIDADE A NÃO ESQUECER

 

MARIANA MIRANDA (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E. PORTUGAL); NIDIA BELO (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E., PORTUGAL); RAQUEL COSTA (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E., PORTUGAL); PATRICIA MAIO (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E., PORTUGAL); SUSANA GOMES (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E., PORTUGAL); CARLA CRUZ (SERVIÇO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DO ESPIRITO SANTO DE ÉVORA, E.P.E., PORTUGAL)

 

P-066

INTRODUÇÃO: O Ceftriaxone é uma cefalosporina amplamente utilizada no tratamento de infecções bacterianas na idade pediátrica e adulta. A formação de lama ou lítiase biliar reversível ("pseudolítiase") foi descrita com possível complicação da sua utilização.
DESCRIÇÃO DE CASO: Adolescente de 13 anos que iniciou dor abdominal no hipocôndrio direito, vómitos persistentes e icterícia cerca de 10 dias após terapêutica com Ceftriaxone, por suspeita não confirmada de Salmonelose. Analiticamente com elevação de transaminases (ALT 1147 U/L, AST 791 U/L) e bilirrubina directa (2.27 mg/dL), ecografia abdominal com microlítiase biliar e coledocolitiase. Exames imagiológicos prévios à terapêutica sem referência a alterações a nível hepático ou vesicular. Foi colocada a hipótese de diagnóstico de hepatite aguda colestática de causa obstrutiva, tendo iniciado hiperhidratação e pausa alimentar. Durante o internamento verificou-se progressiva melhoria clínica, normalização das transaminases e desaparecimento de cálculo obstrutivo na ecografia abdominal ao 3º dia. Ecografias abdominais seriadas em ambulatório documentaram a remissão completa da microlítiase e lama biliar em cerca de um mês.
DISCUSSÃO: Pseudolitiase biliar é um fenômeno relativamente frequente (12 a 46%, dependendo dos estudos) em crianças medicadas com Ceftriaxone, sendo geralmente assintomático e com resolução espontânea após suspensão do fármaco. Contudo estão relatados cursos sintomáticos, mais frequentes em crianças e após altas doses de Ceftriaxone. Alguns autores sugerem que todos os pacientes medicados com Ceftriaxone e que iniciem quadro de dor abdominal, devam ser avaliados ecograficamente e se existir lítiase biliar de novo, deve ser ponderada a suspensão ou substituição de Ceftriaxone por outro antibiótico, tratamento conservador e atitude expectante, com realização de ecografias seriadas até à completa resolução do pseudocálculo.
CONCLUSÃO: O reconhecimento desta entidade clínica por pediatras, cirurgiões e gastrenterologistas é essencial para evitar intervenções invasivas e cirurgias desnecessárias, em doentes em que esta complicação reversível se manifesta de forma sintomática.