Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

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Número atual: 14(1) - Outubro 2013

Editoriais

Pensando numa política nacional para a primeira infância

 

Luciana Borges

 

Entender a primeira infância como a fase da vida que possui necessidade de cuidados especiais é algo muito natural para o pediatra. Já faz parte de nossa rotina. Pensar, entretanto, em políticas públicas que vão além da saúde, como uma Política Nacional de Primeira Infância é algo que pode ser um passo a mais em nossa prática. James Heckman, economista americano, ganhador do Prêmio Nobel de Economia no ano 2000 alerta que o principal foco para a primeira infância é a educação de qualidade e o apoio para as suas famílias, de modo que estas possam fornecer os incentivos certos para as crianças num momento-chave de sua existência. Iniciativas que podem parecer mínimas têm altíssimo impacto, como o hábito de conversar com os filhos, brincar com eles ou estimulá-los a ler um livro. O pediatra, portanto, deve acreditar que seu papel ultrapassa o acompanhamento de um gráfico de crescimento e desenvolvimento, a verificação do calendário de vacinas, a atenção às doenças prevalentes ou o manejo de situações de emergência. Orientar os pais para a criação de ambientes saudáveis favorecedores do desenvolvimento infantil faz parte de nossa agenda de trabalho. O cotidiano corrido da nossa contemporaneidade muitas vezes acaba por promover a substituição dos momentos de contato das crianças com suas famílias pela programação da TV, videogames ou internet. Nada é mais importante para um filho do que saber-se importante para os pais, mesmo que por poucas horas durante o dia. As evidências científicas, encabeçadas pela neurociência, nos mostram que o setor saúde e o educacional são potencialmente orientadores para a criação de estratégias familiares que promovam o estímulo ao aprendizado cognitivo e emocional das crianças, com excelente custo-benefício para a família e para a sociedade onde vivem. Alguns países, como o Chile, promoveram mudanças importantes na abordagem de crianças na faixa de 0 a 5 anos, o que é consonante com o Relatório da Comissão de Determinantes Sociais da Saúde (OMS, 2008) que nos traz a seguinte reflexão: "Investir nos primeiros anos de vida é uma das medidas que nos permitirá com maior probabilidade a redução das desigualdades em saúde no espaço de uma geração[...] O desenvolvimento da primeira infância, em particular o desenvolvimento físico, socioemocional e linguístico-cognitivo, determina de forma decisiva as oportunidades na vida de uma pessoa e a possibilidade de gozar de boa saúde, já que afeta a aquisição de competências, a educação e as oportunidades de trabalho." Pare um minuto e avalie o que poderia ser modificado na sua consulta de rotina para contemplar estas questões... Você já tinha pensado nisso????

 

Profa Luciana Borges
Médica pediatra, Doutora em Saúde da criança e da mulher IFF/FIOCRUZ, Pediatra da SMS-RJ, Coordenadora Adjunta do Mestrado em Saúde da Família da UNESA, Professora dos Cursos de Medicina da UNESA e da UNIFESO