Editorial
Novas Fronteiras para a Formação do Pediatra: um sonho possível
Katia Telles Nogueira; Anna Tereza Soares de-Moura
DOI:10.31365/issn.2595-1769.v20i4p121-123
SOPERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Endereço para correspondência:
Katia Telles Nogueira
Recebido em: 06/01/2020
Aprovado em: 07/01/2020
Instituição: SOPERJ, SOPERJ - Rio de Janeiro - rj - Brasil
Resumo
INTRODUÇÃO: No mês de outubro, a Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) realizou o II Congresso de Ensino e Pesquisa, que aconteceu entre os dias 7 e 10, na modalidade virtual através da plataforma Zoom Meeting. Esse congresso era um desejo da diretoria desde o início do nosso mandato e seria presencial, com uma grande troca de experiências. No primeiro ano de atividades da atual gestão, nos dedicamos a ações intensas de educação continuada, criação de grupos de trabalho, renovação do corpo editorial da Revista SOPERJ, remodelamento do nosso site e deixamos o Congresso de Ensino e pesquisa para o coroado ano de 2020. Em março de 2020 "o inesperado fez uma surpresa", como diz a música, e fomos atravessados pela pandemia e o isolamento social. Mesmo com dificuldades, a SOPERJ procurou manter iniciativas de atualizações e começamos a realizar várias videoconferências e lives no Instagram. As atividades voltadas para a educação médica não poderiam ficar de fora. A pandemia do novo coronavírus acelerou bastante o uso dos meios digitais no atendimento médico e no ensino de graduação. Muitos foram os desafios dos gestores de ensino e preceptores de residência; fomos invadidos por um mar de publicações, e algumas vezes não sabíamos a relevância de algumas delas. Nesse cenário, nossa diretoria se sentiu motivada e assim começamos a transformar nosso sonho em realidade.
Palavras-chave: Editorial; Pediatria; Medicina.
Nos dias 7 a 10 de outubro, a Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) realizou o II Congresso de Ensino e Pesquisa na modalidade virtual, através da plataforma Zoom Meeting. Esse congresso era um desejo desta diretoria desde o início do mandato e seria presencial, com uma grande troca de experiências. No primeiro ano de atividades da atual gestão, nos dedicamos a ações intensas de educação continuada, criação de grupos de trabalho, renovação do corpo editorial da Revista SOPERJ e remodelamento do nosso site, e deixamos o Congresso de Ensino e Pesquisa para o coroado ano de 2020.
Em março de 2020, "o inesperado fez uma surpresa", como diz a música, e fomos atravessados pela pandemia e o isolamento social. Mesmo com dificuldades, a SOPERJ procurou manter iniciativas de atualizações e foram realizadas várias videoconferências e lives no Instagram. As atividades voltadas para a educação médica não poderiam ficar de fora.
A pandemia do novo coronavírus acelerou bastante o uso dos meios digitais no atendimento médico e no ensino de graduação. Muitos foram os desafios dos gestores de ensino e preceptores de residência; fomos invadidos por um mar de publicações, e algumas vezes não sabíamos a relevância de algumas delas. Nesse cenário, nossa diretoria se sentiu motivada e assim começamos a transformar nosso sonho em realidade.
Com o tema "Novas Fronteiras para a Formação do Pediatra", o II Congresso de Ensino e Pesquisa teve como reflexão de abertura as competências das futuras gerações de pediatras, com uma palestra inspiradora realizada pela Dra. Luciana Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. O evento contou ainda com sessões chamadas de Painel e Exposição Dialogada, com debates muito interessantes e grande participação dos alunos de graduação. Essas atividades abordaram os seguintes temas de interesse:
Oportunidades de aprendizagem e trocas de experiência durante a pandemia;
Avanços tecnológicos para a formação em Pediatria;
Desafios da nova modalidade da Residência Médica: o que mudou com a pandemia;
Gerenciamento de informações e atividades na era digital;
Divulgação científica em Pediatria: formatação de trabalhos para apresentação.
O evento seguiu com uma bela explanação do Dr. Clemmax Couto Santana sobre questões éticas em publicação científica, já que com o grande número de artigos produzidos durante a pandemia, surgiram muitas dúvidas sobre como proceder. O último dia ficou reservado para a realização da Oficina de Ligas Acadêmicas de Medicina, e representantes das Ligas de Pediatria da Estácio, Universidade Federal Fluminense e Unigranrio apresentaram trabalhos de altíssimo nível, seguidos de debates mediados com as respectivas preceptoras.
Enfim, o evento foi um sucesso de público e crítica, com participação diária entre 31 e 60 colegas interessados no tema da formação médica. Parece que os desafios impostos pela Covid-19 podem ser ainda maiores nesta área, considerando a importância de atividades práticas para a formação adequada. Segundo as mais recentes diretrizes curriculares para cursos de Medicina, o egresso a ser formado precisa ser um profissional crítico e reflexivo, capaz de atuar em equipe, nos diferentes níveis de atenção envolvendo ações de promoção, assistência, reabilitação e gestão em saúde. De acordo com as premissas contemporâneas para a educação médica, os projetos pedagógicos precisam ainda privilegiar o uso de metodologias ativas de ensino e estar centrados na autonomia do estudante, oportunizando espaços para a construção coletiva. Claro está que o alcance de todos esses objetivos foi profundamente impactado nos tempos atuais de pandemia, com preocupação especial com a construção dos propósitos e valores éticos que compõem a construção profissional médica.
Nosso evento tentou oportunizar a reflexão sobre temas que por vezes são negligenciados, como empatia, resiliência, interprofissionalismo, competências consideradas soft skills e menos importantes na formação. O processo de aprendizagem foi invadido pelas muitas ferramentas de ensino remoto, que permitem a interação de grandes e pequenos grupos, construção de materiais diversos como vídeos, podcasts e tantas outas modalidades de interação em meio digital. Com a interrupção das atividades presenciais, alunos e residentes perderam diversas oportunidades de encontro, de apoio mútuo e aprender junto. Atividades já consolidadas, como trotes solidários, ações junto à comunidade, festas de confraternização e até mesmo a clássica e aguardada cerimônia de colação de grau foram interrompidas ou transportadas para os espaços virtuais. A criação de vínculos é possível no ambiente remoto, mas é preciso considerar que podem existir dificuldades na criação de unidade entre as turmas e sensação de pertencimento ao grupo.
A necessidade de espaços protegidos para o desenvolvimento de responsabilidade social ficou ainda mais evidente, com impacto diferenciado da pandemia em segmentos de maior vulnerabilidade, que vivenciam restrições em sua própria proteção, decorrentes da desigualdade social, impossibilidade de isolamento por questões de arranjo familiar e diferenças extremas de acesso aos serviços de saúde. Inovação e flexibilidade são palavras de ordem e será preciso considerar novas iniciativas para a formação do pediatra.
Aprender é um processo interativo de participação social e transformação pessoal, que resulta na formação dos pediatras dos quais a sociedade atual precisa - profissionais implicados com o sofrimento de seus futuros pacientes. A SOPERJ, mais uma vez, está atenta à necessidade de mudanças na construção profissional do pediatra, colaborando para a reflexão sobre os caminhos a seguir. Como diz outra música, no novo tempo, apesar dos perigos, de toda fadiga, estamos na briga. Estamos atentos, estamos mais vivos.
REFERÊNCIAS
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3. Frenk J, et al. Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. The Lancet 2010; 376:1923-58.
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5. Williams CM, Wilson CC, Olsen CH. Dying, death, and medical education: student voices. J Palliat Med 2005; 8(2):372-81.