Revisoes em Pediatria
Tumor carcinoide de pulmão - revisão
Pulmonary carcirroid tumor - revision
Alessandra Nunes da Fonseca; Roberta Costa Palmeira Neves; Luciane Alves; Clemax Couto Sant'Anna; Maria de Fátima Pombo March; Sidnei Ferreira
Instituto de Puericultura e Pediatria Martagao Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ.
Resumo
OBJETIVO: revisão bibliográfica sobre os tumores carcinóides pulmonares e enfatizando quando suspeitar desta neoplasia na faixa etária pediátrica.Palavras-chave: carcinóide brônquico; neoplasia pulmonar, criança, adolescentes
Abstract
OBJECTIVE: Revision of literature about pulmonary carcinoid tumors and discuss the diagnostic suspicion in childhood.Keywords: bronchial carcinoid; pulmonary neoplasm; child.; adolescent
INTRODUÇÃO:
As neoplasias pulmonares são raras na infância e dentre elas a mais comum é o tumor carcinóide.
Wang e col. (1), na última revisão bibliográfica encontrada na literatura enfocando os casos na infância, citam apenas 17 (8,1 %) pacientes do total de 208 com diagnóstico de carcinóide pulmonar com idade inferior a 21 anos. A idade média na infância foi de 17 anos.
Os tumores carcinóides pulmonares eram classificados como adenomas brônquicos e diversas classificações eram utilizadas para descreve-los. Em 1999 Travis e col.(2) formularam uma nova classificação para os tumores pulmonares que foi adotada pela Organização Mundial de Saúde. Os tumores carcinódes pulmonares são classificados como neoplasia neuroendócrina maligna junto com o carcinoma de pequenas células e o carcinoma de grandes células, pois são capazes de sintetizar produtos hormonais semelhantes às células do sistema nervoso central.
Esta neoplasia é responsável por 1 a 5 % dos tumores pulmonares, acometendo igualmente ambos os sexos. Fink e col.(3) em Israel, relataram 142 casos de 1980 a 1999 e compararam com 640 casos publicados entre 1984 e 2000, envolvendo adultos e crianças. De acordo com o aspecto histopatológico são classificados como:
Típicos - bem diferenciados, com menos de duas mitoses por 2 mm e sem necrose. São considerados de baixo grau de malignidade e correspondem a 90 % dos casos. Têm evolução benigna, com menos chance de metástase e melhor prognóstico do que o atípico. Atípicos - mostram duas a dez mitoses por 2 mm e/ou necrose de coagulação. São mais raros, porém mais agressivos e com maior chance de metástase. O prognóstico é mais reservado.
Estudos em adultos mostraram associação dos tumores atípicos com o fumo(4), o que não se verifica com os típicos.
Em 70 % dos casos a localização é central, acometendo em geral brônquio fonte principalmente a direita (61% dos casos).
QUADRO CLÍNICO
Ao contrário dos adultos, as crianças normalmente apresentam sintomas. A idade média de diagnóstico na infância é de 17 anos. Wang e col.(1) relataram que os quadros clínicos mais comuns na infância foram atelectasia (59%), pneumonia (53%), sibilância (47%) e hemoptise (38%), o que se deve à localização central do tumor com obstrução brônquica e a sua grande vascularização, daí as hemorragias, exteriorizadas pela hemoptise.
O quadro clínico normalmente é insidioso com sintomas durante aproximadamente um ano até chegar ao diagnóstico definitivo(1).
A associação com síndromes paraneoplásicas devido à produção hormonal é rara, em cerca de 1 a 6 % dos casos(4) e está relacionada principalmente a presença de metástase hepática. Tais síndromes associadas são a síndrome carcinóide pela produção de serotonina gerando diarréia, distúrbios vasomotores e broncoespasmo, síndrome de Cushing pela produção de ACTH e síntese ectópica de GH.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito através de broncoscopia na maioria dos casos, devido à localização central do tumor. Normalmente o paciente apresenta radiografia de tórax com imagem de hipotransparência central mantida e sinais e sintomas relacionados à obstrução brônquica. À broncoscopia vizualiza-se o tumor que se apresenta como nódulo liso, avermelhado e polipóide dentro da luz brônquica(4).
Mezzeti e col.(5) ressaltam a importância da realização de biópsia antes da decisão terapêutica, pois a histopatologia do tumor pode alterar o tratamento. Nos tumores de localização central a biópsia pode ser realizada durante a broncoscopia. O risco de sangramento existe, mas estudos atuais não contra-indicam o procedimento. Alguns autores sugerem o uso de solução com epinefrina durante o precedimento para reduzir tais riscos. Nos tumores periféricos a biópsia pode ser transtorácica com o uso de agulha fina(4).
A avaliação de linfonodos mediastinais e perihilares deve ser feita através de tomografia de tórax, pois também altera a decisão terapêutica. Nos casos em que houver acometimento de linfonodos perihilares ou mediastinais a cirurgia deverá ser mais agressiva para evitar a recidiva da doença. Além dos linfonodos a tomografia computadoriza (TC) de tórax com contraste pode mostrar a estreita relação do tumor com os vasos pulmonares(6).
Alguns autores ressaltam a importância do diagnóstico diferencial com tuberculose, principalmente em nosso país, onde a prevalência desta doença é alta. O quadro clínico de imagem radiológica justa-hilar mantida com uso de antibiótico para germes comuns, levaria à essa confusão diagnóstica.(7)
TRATAMENTO
O tratamento de escolha é a ressecção cirúrgica. A melhor opção cirúrgica depende do aspecto histopatológico do tumor, do acometimento linfonodal e do estado clínico do paciente.
Pode-se realizar ressecções ditas agressivas como pneumectomia, bilobectomia lobectomia ou ressecções conservadoras como segmentectomia, ressecção tumoral analisando as margens livres de doença ou broncotomia com excisão simples. Na maioria dos estudos o procedimento cirúrgico mais realizado foi a lobectomia(5,6,8).
Cardillo e col(9) recomendam que todos os pacientes sejam submetidos a linfadenectomia mediastinal radical durante a cirurgia para avaliar presença de metástase.
Mezzeti e col.(5) compararam o tipo de cirurgia realizada, o tipo histológico, acometimento de linfonodos e o risco de recidiva em 98 pacientes com diagnóstico de tumor carcinóide pulmonar, dos quais 88 eram carcinóides típicos e 10, carcinóides atípicos. Os autores indicam a realização de ressecções não conservadoras nos casos de tumores carcinóides atípicos, mesmo nos casos iniciais, embora tenha havido pequeno número de casos com recidiva no pós-operatório. Como o prognóstico e a chance de recidiva estão relacionados ao tipo histológico e com o acometimento de linfonodos, os autores ressaltam a importância do diagnóstico pré-operatório com biópsia e tomografia, inclusive para as decisões terapêuticas sobre qual cirurgia realizar. Nos tumores típicos na fase inicial pode-se realizar apenas a ressecção tumoral ou a segmentectomia.
Os tratamentos adjuvantes como quimioterapia e radioterapia não são indicados nos casos de tumores carcinóides(4) e o uso de interferon alfa e octreotide nos casos com metástases ainda merecem maiores estudos(4).
PROGNÓSTICO
O prognóstico varia de acordo com o tipo histológico e com o acometimento de linfonodos. Os tumores típicos têm excelente prognóstico com sobrevida que varia de 87 a 100% em 5 anos. Já os casos atípicos tem pior prognóstico com sobrevida variando de 56 a 75% em 5 anos (3,4,5,6,8).
Na infância há predomínio dos tumores carcinóides típicos, cujo prognóstico é bom, com taxas de metástase baixas, em torno de 11,8%.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Wang LT, Wilkins EW, Bode HH. Bronchial carcinoid tumors in pediatric patients. Chest 1993;103(5):1426-1428.
2. Travis WD, Sobin LH, Histologic typing of lung and pleural tumours: international histologic clasification of tumours. New York, Springer-Verlag, 1999.
3. Fink G, Krelbaum T, Yellin A, Bendayan D. Pulmonary carcinoid - Presentation, diagnosis and outcome in 142 cases in Israel and review of 640 cases from the literature. Chest 2001:119:1647-1651.
4. Hage O, Brutel de la Rivière A, Seldenrijk A . Update in pulmonary carcinoid tumors: a review article. Annals of surgical oncology,2003;10(6):697-704.
5. Mezzetti M, Raveglia F, Panigalli T, Giuliani L, Giudice FL, Meda S. Assessment of outcomes in typical and atypical carcinoids according to latest WHO classifcation. Ann Thorac Surg 2003 76:1838-42.
6. Schrevens L, Vansteenkiste J, Deneffe G, Leyn PD, Verbeken E. Clinical-radiological presentation and outcome of surgically treated pulmonary carcinoid tumours: a long-term single institution experience. Lung cancer 2004;43:39-45.
7. Souza GRM, Sant'Anna CC, Silva JRL, Bethlem N. Carcinoide brônquico - Relato de dois casos em crianças. Jornal de pneumologia 1984;10(2):81-84.
8. Kurul IC, Topçu S, Tastepe I, Yazici Ü, Altinok /p> T. Surgery in bronchial carcinoids: experience with 83 patients. European Journal of cardiothoracic surgery 2002; 21 883-887.
9. Cardillo G, Sera F, Martino MD, Graziano P, Giunti R, Carbone L, Facciolo F, Martelli M. Bronchial carcinoid tumors: nodal status and long-term survival after ressection. Ann Thorac Surg 2004;77:1781-85.