Revista de Pediatria SOPERJ

ISSN 1676-1014 | e-ISSN 2595-1769

Logo Soperj

Número atual: 23 (supl 2)(2) - Dezembro 2023

Suplemento XV CONSOPERJ

Suplemento XV CONSOPERJ

 

 

EDITORIAL

Com muita alegria apresentamos os Anais do XV Congresso da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (CONSOPERJ) realizado do dia 30/11/2023 a 02/12/2023 no Centro de Convenções EXPO MAG na cidade do Rio de Janeiro.

O evento contou com a participação de aproximadamente 800 congressistas e apresentou temas de elevada relevância na Pediatria e respectivas Áreas de Atuação elaborados pelos nossos 24 Departamentos Científicos e 7 Grupos de Trabalho.

Conferências, mesas redondas, painéis, fóruns e workshops foram apresentados por renomados professores com presença expressiva de congressistas que abrilhantaram o evento cientificamente.

Foram inscritos 230 Temas Livres dos quais aproximadamente duzentos foram selecionados para exposição e os dez melhores selecionados pela Comissão Científica do Congresso para apresentação oral.

A presente publicação apresenta o resumo de todos trabalhos apresentados no XV CONSOPERJ e com toda certeza será de extrema importância científica tanto para seus autores assim como para todos colegas Pediatras.

Finalmente quero agradecer a Diretoria Executiva da SOPERJ e toda Comissão Científica do XV CONSOPERJ pelo grande sucesso do evento.

Um grande abraço a todos.

Claudio Hoineff

 


 

TEMAS LIVRES ORAIS

Bioética

A AUTONOMIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE À LUZ DOS CONCEITOS BIOÉTICOS: RELATO DE CASO

KATIA NOGUEIRA (UNESA-IDOMED), BARBARA GOMES ENGEL (UNESA-IDOMED), CAROLINA DE ARAUJO LOPES (UNESA-IDOMED), FLAVIO LIMA BARRETO SARDINHA (UNESA-IDOMED), LARISSA OLIVEIRA DE FARIA (UNESA-IDOMED), JOÃO VICTOR BISPO (UNESA-IDOMED)

A autonomia da criança e do adolescente é um tema importante da bioética, que envolve questões sobre o respeito pelos direitos e dignidade humanos. Este trabalho parte de um relato de caso real adaptado, com o objetivo de discutir a autonomia da vontade da criança e do adolescente em conhecer seu estado de saúde através de uma perspectiva bioética.

Menino, 13 anos , diagnosticado com Leucemia Linfoide Aguda aos 10 anos , foi submetido a diversos tratamentos inclusive transplate de medula óssea. Após 3 anos, as propostas curativas foram esgotadas e os médicos declararam fase terminal da doença. A família optou por não revelar ao filho o prognóstico, no intuito de preservá-lo de sofrimento extra, alegando que essa decisão cabia a eles. A criança não sabia do real motivo pelo qual estava sendo internada. A equipe médica buscou o comitê de ética do hospital, enfatizando a importância da verdade e da participação do paciente no processo de tratamento. Ao final, os pais concordaram em contar a verdade ao filho.

A autonomia da vontade é um tema importante no estudo da bioética, O Relatório Belmont, 1978 propôs a adoção de três princípios básicos: Autonomia, Beneficência e Justiça. Em 1979, o princípio da Não-maleficência foi incorporado. Quando aplicados a crianças e adolescentes, em especial concernente à autonomia da vontade, deve-se considerar o desenvolvimento cognitivo e psicossocial, bem como a necessidade de orientação e suporte para tomar decisões informadas. A autonomia nesses casos é relativa, haja vista a evolução do discernimento de acordo com a idade. Para analisar a autonomia infantil de maneira isenta, é necessário despir-se da atitude paternalista, que projeta na criança e no adolescente uma visão de incapacidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente, define as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento, que demandam proteção integral e prioritária por parte da família, sociedade e do Estado, prevê a integração operacional dos órgãos e instituições públicas e entidades da sociedade civil, visando à proteção, à responsabilização por ação ou omissão de violação dos direitos. Segundo as etapas do desenvolvimento e amadurecimento cognitivo de Piaget, um adolescente de 13 anos já é capaz de discernir e racionalizar seus pensamentos e atitudes, Os pais violaram sua autonomia, os quais deveriam ser protetores e fomentadores dos interesses desse adolescente. Contudo a equipe médica buscou apoio da equipe multidisciplinar.

Concluindo a autonomia da criança e do adolescente é fundamental e as situações são individuais, levando em conta a autonomia relativa desses pacientes, seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial, e os direitos assegurados pelo ECA. A tomada de decisões éticas e sensíveis é essencial para garantir o bem-estar e a dignidade dos pacientes em fase terminal.

Palavras Chave: BIOÉTICA, DOENÇA TERMINAL, CUIDADOS PALIATIVOS, AUTONOMIA

 


 

Infectologia

ANÁLISE TEMPORAL DA CIRCULAÇÃO DO VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO EM CRIANÇAS ADMITIDAS EM HOSPITAIS PEDIÁTRICOS DO RIO DE JANEIRO, DURANTE 3 ANOS DE SEGUIMENTO

RENATA NOVELLINO DO ROSÁRIO AZZI (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA), TAYNÁ BASTOS MOURÃO VIANA (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA), GUSTAVO DUQUE YECKER (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA), MATHEUS FREIRE DE LIMA (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA), MARIA IZABEL MULLER DE CAMPOS DUTRA E SILVA DE ANDRADE (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA), ANDRÉ RICARDO ARAUJO DA SILVA (PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA)

O vírus sincicial respiratório (RSV) é uma doença comum que afeta as vias aéreas e constituem um dos tipos de doenças mais frequentes e graves nos primeiros meses de vida, principalmente em recém-nascidos, lactentes jovens e nos prematuros. O RSV é responsável por 50-90% dos casos de bronquiolite e por aproximadamente 50% de todas as pneumonias na infância, principalmente nos meses de outono e inverno.

Nos últimos anos, notou-se uma mudança de padrão na circulação do RSV que pouco aparecia nos meses mais quentes.

Descrever a temporalidade da circulação do vírus sincicial respiratório em crianças admitidas em hospitais pediátricos do Rio de Janeiro.

Método: Série temporal de casos de RSV detectados em pacientes pediátricos (0-5 anos) admitidos em duas unidades hospitalares do município do Rio de Janeiro, entre janeiro de 2021 e 31 de agosto de 2023, possuindo 175 leitos de internação em conjunto. Foram incluídos todos os pacientes com quadros confirmados de RSV por teste de imunocromatografia realizado na admissão dos pacientes, de acordo com a suspeita clínica. Os casos foram analisados de acordo com as semanas epidemiológicas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde.

Em 2021, foram detectados 51 casos de RSV, sendo que 18 (35,3%) dos casos ficaram concentrados entre as semanas epidemiológicas 44 e 48 (31/10/2021 a 6/11/2021). Em 2022, foram detectados 88 casos, sendo que 40 (45,5%) destes foram diagnosticados entre as semanas epidemiológicas 16 e 26 (17/4/2022 a 2/7/2022). Em 2023, até o dia 31 de agosto, foram diagnosticados 154, sendo 128 (83,2%) entre as semanas epidemiológicas 10 e 24 (5/3/2023 a 17/6/2023). Os resultados encontrados mostram uma mudança no comportamento do vírus ao longo dos anos estudados, muito provavelmente pelas restrições de circulação impostas pela pandemia de COVID-19 nos anos de 2020 e 2021. Habitualmente a circulação do vírus ocorre no período de outono/inverno na cidade do Rio de Janeiro, havendo uma concentração de casos de forma atípica no mês de novembro de 2021. O padrão de circulação em 2022 obedeceu ao padrão histórico da circulação do vírus, com maior número de casos concentrados entre os meses de abril e julho. E, finalmente, apesar do ano de 2023 estar em andamento, notamos um aumento expressivo no número de casos diagnosticados, com maior concentração de casos iniciando em período anterior ao esperado (final do verão) e se prorrogando até junho, provavelmente em decorrência do fim das restrições impostas pela COVID-19 e fim do estado de emergência em saúde pública internacional

Notamos um aumento progressivo do número de casos de RSV em crianças internadas em dois hospitais pediátricos do município do Rio de Janeiro, entre os anos de 2021 e 2023, com mudança no padrão de sazonalidade, provavelmente decorrente da pandemia de COVID-19

Palavras Chave: VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO, COVID, SAZONALIDADE

 


 

Alergia e Imunologia

FARMACODERMIA BOLHOSA GRAVE: SÍNDROME DE STEVENS JOHNSON/ NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA

MARIANA GOMES PEÇANHA (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), ALICE D`ÁVILA COSTA RIBEIRO (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), LARISSA AQUINO DE OLIVEIRA (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), ANA LUISA BORGES NEVES MANHÃES (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), MARIANA REIS CABRAL VILLARI (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), GABRIELA SALVAREZ TEIXEIRA (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), JOSIANE DE LIMA BALBINO DOS SANTOS (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), JAQUELINE COSER VIANNA (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), RODRIGO CARDEAL MENEZES (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO), MONICA SOARES DE SOUZA (HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO)

A maioria das reações cutâneas a fármacos apresentam bom prognóstico, mas, cerca de 2% podem ser graves e fatais. A Síndrome de Stevens Johnson (SSJ) e a Necrólise Epidérmica Tóxica (NET) representam farmacodermias graves bolhosas. São caracterizadas por máculas eritematosas, purpúricas que evoluem para bolhas devido a necrose epidérmica. A SSJ apresenta descolamento cutâneo menor que 10% da superfície corporal, o overlpap entre 10 e 30% e a NET maior que 30%. O índice de mortalidade da SSJ é 1-5% e da NET é de 25-35%.

Paciente feminina, 11 anos, internada há cerca de 30 dias com quadro de encefalite por vírus Epstein Barr (EBV), convulsões de difícil controle e pneumonia associada à ventilação mecânica. Uso prévio de aciclovir por 21 dias e imunomodulação por 3 dias para tratamento da encefalite por EBV. Evoluiu com febre, calafrios, rash eritematoso em tronco, lesões bolhosas em lábios, em uso de vancomicina, cefepime, fenobarbital, carbamazepina, valproato, levetiracetam, haloperidol, diazepam, prometazina, loratadina e paracetamol. Ao exame físico, apresentava lesões ulceradas e fissuras labiais, aftas em palato posterior, rash eritemato papular em tronco, discreto edema e hiperemia em pavilhão auricular esquerdo. Após avaliação da imunoalergia, indicado corticoterapia e anti-histamínico, com suspensão de anticonvulsivantes aromáticos inicialmente e substituídos vancomicina e cefepime por teicoplamina. Houve progressão das lesões, com aumento da extensão das bolhas e áreas de descolamento. Indicada imunomodulação e retirada de todos os anticonvulsivantes, mantendo exclusivamente diazepan por 36 horas. Reiniciados levetiracetam, clobazan e diazepan Realizada biópsia cutânea evidenciando extensa necrose da epiderme com escasso infiltrado inflamatório na derme, fortalecendo o diagnóstico de farmacodermia. Boa evolução clínica, neurológica e dermatológica, alta hospitalar em uso de clobazan e levetiracetam.

Farmacodermias graves bolhosas representam uma emergência médica. Neste relato a primeira hipótese etiológica para a SSJ/NET,foram o fenobarbital e a hidantoína, sendo suspensos. Indicados o uso de corticoide sistêmico, imunomodulação e retirada de todos os anticonvulsivantes pela progressão da reação de hipersensibilidade. Infecções por herpes vírus podem estar associadas como potencializadoras em pacientes com hipersensibilidade aos anticonvulsivantes como: fenobarbital, hidantoína, lamotrigina e valproato.

O diagnóstico da SSJ/NET é clínico, podendo ser confirmado pela histopatologia. Atualmente, estudos do HLA são realizados com o objetivo de identificar os suscetíveis a reações de hipersensibilidade a anticonvulsivantes aromáticos entre outros. Médicos devem estar atentos para identificar essas farmacodermias, suspender o agente desencadeante e iniciar o tratamento apropriado.

Palavras Chave: FARMACODERMIA, STEVENS JOHNSON, NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA

Agradecimentos: AGRADECEMOS À DRA. MARIA ELISA LENZI RIBEIRO PELA AJUDA DA EXECUÇÃO DA BIÓPSIA CUTÂNEA

 


 

Neonatologia

A IMPORTÂNCIA DA CONSULTA PEDIÁTRICA PRÉ-NATAL NOS PRIMEIROS MIL DIAS

FERNANDA CORREA DE OLIVEIRA RAMOS (FACULDADE SOUZA MARQUES), ALEXIA DIVA DE CARVALHO PHEBO (FACULDADE SOUZA MARQUES), HENRIQUE PAZOS FERNANDES MARTINS (FACULDADE SOUZA MARQUES), ANNA LUIZA COSTA SANT` ANNA (FACULDADE SOUZA MARQUES), GIOVANNA FIGUEIREDO CHAGAS (FACULDADE SOUZA MARQUES), JULLYANE LUTTERBACH ERTHAL (FACULDADE SOUZA MARQUES), JULIA ELISA VILLON DO AMARAL (FACULDADE SOUZA MARQUES), LUIZA MARIA ALVES VIEIRA (FACULDADE SOUZA MARQUES), THAÍS ALVARENGA CERONI (FACULDADE SOUZA MARQUES), GLÁUCIA MACEDO DE LIMA (FACULDADE SOUZA MARQUES)

"Primeiros mil dias" - janelas de oportunidades que impactam crescimento e desenvolvimento, da concepção ao final do período de lactente. A inserção do Pediatra ao terceiro trimestre da gestação, oportuniza prevenção e cuidado da mãe diante de situações que possam interferir no concepto.

Verificar crianças cujas mães receberam pré-natal satisfatório, incluindo a consulta pediátrica. Análise estatística descritiva tipo caso-controle, à identificação de crianças cujas mães tiveram ou não pré-natal satisfatório, com ênfase à consulta ao pediatra no pré-natal. Coleta de respostas às 48 questões referentes ao tema de acordo com base bibliográfica, aplicadas via plataforma Google, a mães de lactentes concordantes com o Termo TCLE - Projeto submetido a CEP via Plataforma Brasil aprovado CAAE 61489422.4.0000.5239. Média idade 82 mães início pré-natal: 28,8 ± 5,9 anos, 17-42, mediana 28,8, moda 29. Variáveis prevalentes: união estável84,15%, ensino superior completo36,59%, renda familiar até 6 salários-mínimos59,76%, pré-natal rede privada82,93%, gravidez planejada52,44%, exercício físico regular57,32%, peso ideal início gestação59,76%. Parto particular75,61%, via cesariana 53,66%. RN termo89,02%, choro ao nascer89,02%, sem reanimação93,90%, alojamento conjunto80,49%, peso OMS normal87,80%, sem aleitamento exclusivo aos 6 meses53,66%.

Variáveis estatisticamente significativas p<0.05 na "amostra com pediatra antes do parto": parto vaginal p0.01, escolaridade superior p0.05, diabetes gestacional-DMG p0,05 (não observado em hipertensas-HAS), chance dobrada em primíparas p0.05 e quase o triplo de chance de manter dieta saudável na gestação p0.02. RN com desproporção peso-idade gestacional p0,02, choro ao nascer p0.05, chance 12 vezes maior de contato seio materno ao nascer p0.001, chance 3 vezes maior de consulta puericultura à 1ª semana p0.03 e maior que o dobro de consultas mensais puericultura p0.06.

Escolha pré-natal de rede privada sugere bom nível socioeconômico da amostra com quase metade tendo consulta pediátrica no pré-natal, mais relevante entre primíparas e gestantes com peso aumentado, HAS e DMG. O controle ponderal gestacional resultou em peso adequado de RNs. Metade das mães planejaram a gravidez, porém a adesão ao pré-natal ideal foi falha.

Reitera-se que as correlações mais significativas à presença do pediatra no pré-natal destacadas foram escolaridade superior, primiparidade, diabetes gestacional, dieta saudável na gestação, parto vaginal, RN com desproporção peso-idade gestacional, sem necessidade de reanimação, com contato ao seio materno ao nascer e consultas regulares de Puericultura desde a primeira semana de vida.

Concluímos que gestantes que consultaram Pediatra antes do parto apresentaram morbidade minimizada em seus conceptos, mas ressalta-se a falha dessa consulta de forma ideal.

Palavras Chave: GRAVIDEZ, CUIDADO PRÉ-NATAL, PARTO OBSTÉTRICO.

Agradecimentos: AGRADECEMOS À PROF. ORIENTADORA GLÁUCIA MACEDO DE LIMA PELO SUPORTE, INCENTIVO E CONFIANÇA.

 


 

Segurança da Criança e do Adolescente

QUEIMADURA ELÉTRICA EM ADOLESCENTE: RELATO DE CASO

LIZ GOMES DA SILVA LUTTERBACH (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI), ROBERTO ALEXANDRE LIMA LEAL (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI), RAMON WERNER HERINGER GUTIERREZ (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI), GABRIEL NEVES DOS SANTOS MOSQUEIRA GOMES (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI), ORIDO LUIZ ROCHA PINHEIRO (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI), MARIA CRISTINA DO VALLE FREITAS SERRA (HOSPITAL FEDERAL DO ANDARAI)

Os acidentes ocasionados por queimaduras são um dos principais problemas de saúde pública, podendo ser causados por agentes térmicos, elétricos, químicos e radioativos que acometem não apenas a pele, mas também diversos órgãos adjacentes.

Dados do Ministério da Saúde apontam aproximadamente 1 milhão de acidentes com queimaduras no Brasil por ano, sendo que cerca de 100.000 procuram atendimento hospitalar e em torno de 2.500 evoluem para óbito.

A incidência de queimaduras em crianças vem aumentando, sendo a maioria por acidentes domésticos que poderiam ser prevenidos.

Menor de 16 anos apresentou queimadura elétrica em antebraço e mão direita ao tentar resgatar pipa em rede elétrica utilizando cabo de metal. Recebeu primeiro atendimento na emergência de uma unidade hospitalar, onde foram realizadas medidas iniciais de atendimento ao politraumatizado. Fasciotomias foram realizadas em função de síndrome compartimental em antebraço e mão direita e, nove dias após o acidente, foi regulado a um centro de tratamento de queimados (CTQ).

Na admissão do CTQ, calculou-se superfície corporal queimada em 4%. Oito dias após admissão, passou por desbridamento em centro cirúrgico para retirada de tecido necrótico e dois dias após foi realizada lipoenxertia em antebraço direito. Ficou 73 dias com curativo à vácuo (VAC) até a rotação de retalho fasciocutâneo. Retornou com o uso do VAC por mais 8 dias até ferida estar apta a receber autoenxertia. No total, permaneceu internado no CTQ por 110 dias, recebendo alta para acompanhamento ambulatorial.

As medidas iniciais são de extrema importância para uma evolução favorável. O primeiro passo é identificar o grau da queimadura e sua extensão. Em atendimento emergencial, é mais utilizada a Regra dos Nove de Wallace, entretanto, o Método de Lund e Browder que utiliza a palma da mão do paciente adequa as proporções corporais em relação à idade, sendo importante para crianças e adolescentes. A reposição volêmica inicial deve ser feita de acordo com a Fórmula de Parkland e analgesia com anti-inflamatórios e opioides são indicados para controle da dor.

Procedimentos como fasciotomias, desbridamentos, lipoenxertia e uso de VAC são estratégias realizadas, principalmente, em centros especializados, por isso queimaduras infantis graves, como queimaduras elétricas precisam ser reguladas para esses locais.

A incidência de acidentes com queimaduras em crianças vem aumentando, sendo a maioria por acidentes domésticos que poderiam ser prevenidos.

A atuação da equipe multidisciplinar foi imperativa para a recuperação do adolescente que ficou internado e afastado de suas atividades por longo tempo.

O membro acometido apresenta alteração estética e funcional, porém, paciente, familiares e equipe ficaram satisfeitos com o resultado alcançado após injúria tão grave.

Palavras Chave: QUEIMADURA, ADOLESCENTE

 


 

Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento

SELETIVIDADE ALIMENTAR EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

CLARISSE PEREIRA DIAS DRUMOND FORTES (UNIFOA), ANDREZA BRANDÃO DA SILVA (UNIFOA), PATRÍCIA DA SILVA MARTINS BOTELHO (UNIFOA), ANA BEATRIZ DA S. S. GUIMARÃES VASCONCELOS (UNIFOA), THAMIRIS LINHARES MARQUES (UNIFOA), CECILIA PEREIRA SILVA (UNIFOA)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento, com bases neurobiológicas complexas e ainda não totalmente elucidadas. Clinicamente, cursa com desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade de caráter persistente e prejudicial às atividades diárias do indivíduo, quando comparado a seus pares. Acomete em torno de 5% da população infantil, sendo mais prevalente em meninos. Queixas alimentares relacionadas ao transtorno, assim como a possíveis efeitos colaterais dos medicamentos utilizados no seu tratamento, são comuns.

Analisar a relação entre seletividade alimentar e TDAH, identificando preferências e hábitos alimentares dos pacientes com diagnóstico de TDAH entrevistados.

Estudo descritivo, no qual foram analisados e sintetizados os dados coletados ao longo do ano de 2022, por meio de um questionário formulado pelos autores. As entrevistas foram realizadas com responsáveis e pacientes, na sala de espera de ambulatório de neuropediatria no interior do Rio de Janeiro. Era critério de inclusão ter diagnóstico definido de TDAH no momento da entrevista e idade entre 4 e 14 anos de idade. Trabalho aprovado pelo CEP sob o número CAAE 56991322.8.0000.5237.

Foram realizadas 56 entrevistas. Entre os dados coletados, a maioria dos entrevistados (57%) tinha idade entre 8 e 11 anos, sendo que 80% (45) eram do sexo masculino. Em relação à seletividade alimentar, 31 (55%) entrevistados referiram seletividade alimentar, com alimentos minimamente processados (como carnes, grãos, leite pasteurizado, legumes, verduras e frutas) sendo os preferenciais de 16 crianças (51,6%) e os alimentos ultraprocessados (como suco de caixa ou de pó, biscoitos recheados, refrigerantes) os preferenciais de outras 13 (41,9%) crianças. Treze (23,2%) dos entrevistados referem ingerir alimentos ultraprocessados diariamente. Em 24 (42,8%) das famílias são as mães quem mais se incomodam com a falta de variedade na alimentação da criança. Apesar de 38 (67,8%) relatarem frequência de evacuação diária, outras 18 crianças e adolescentes (32,2%) relataram evacuar menos de três dias na semana.

Encontramos entre nossos entrevistados com diagnóstico de TDAH, grande número de crianças com seletividade alimentar, consumo excessivo de ultraprocessados e alterações do trânsito gastrointestinal. Entretanto as causas para o fenômeno precisam ser melhor estudadas em estudos futuros.

Palavras Chave: COMPORTAMENTO ALIMENTAR, TDAH, SELETIVIDADE ALIMENTAR

Agradecimentos: AO UNIFOA

 


 

Neurologia

ONASEMNOGENE ABEPARVOVEC NO TRATAMENTO DA ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

MATHEUS BARBOSA GEVAERD (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), MARIANA MELLO ZORZI (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), CAIO HENRIQUE MIRALDI DE OLIVEIRA (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), SANDRA PISSURNO CANDIDO DA SILVA (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), JULIANA SILVA DE OLIVEIRA LOPES (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), LUIZA DE MORAES PIRES PAES (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), MARIA EDUARDA DE AGUIAR DA SILVA (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED), PATRÍCIA MARIA CARLA OSÓRIO DUQUE (ESTÁCIO CITTÀ - IDOMED)

A Atrofia Muscular Espinhal (AME) é dividida em cinco tipos: 0, 1, 2, 3 e 4. O tipo 1 é o mais frequente e a forma mais grave da doença. No Brasil, estima-se uma incidência de 250 a 300 novos casos por ano, com um total de 3.800 casos diagnosticados em 2019. O Onasemnogene Abeparvovec (AVXS-101) atua como uma terapia gênica que utiliza um vetor viral para introduzir material genético modificado no organismo humano. Como na AME ocorrem mutações no gene de Sobrevivência do Neurônio Motor (SMN) que levam à perda de neurônios motores no tronco cerebral e medula espinhal, o AVXS-101 foi desenvolvido para fornecer uma cópia normal do gene que codifica a proteína 1 de SMN nos pacientes com AME. Este medicamento foi aprovado pela Anvisa para comercialização no Brasil em 17 de agosto de 2020.

Descrever o uso da Onasemnogene Abeparvovec no tratamento da Atrofia Muscular Espinhal (AME) em estudos clínicos dos últimos cinco anos.

A pesquisa utiliza a metodologia de um estudo descritivo a partir de uma revisão integrativa sobre a utilização de Onasemnogene Abeparvovec no tratamento da Atrofia Muscular Espinhal. Para a busca bibliográfica foram utilizadas as bases de dados PubMed, Cochrane e MedLine a partir de dois descritores e um operador booleano de adição: 'Onasemnogene Abeparvovec' AND 'Spinal Muscular Atrophy'. A limitação temporal engloba apenas ensaios clínicos realizados nos últimos cinco anos publicados em inglês e/ou português. Foram excluídos os artigos que não disponibilizam o conteúdo na íntegra, artigos duplicados e publicações que não se enquadram nos critérios de inclusão, tanto no período de publicação como também na forma de apresentação. Dessa forma, a busca bibliográfica resultou em 8 publicações, sendo 4 selecionadas para a revisão integrativa após a leitura integral dos artigos e adequação aos critérios.

Os quatro ensaios analisados apresentaram desenvolvimento motor satisfatório dos pacientes e apenas um artigo menciona efeitos adversos graves. Além disso, os dois estudos que avaliaram a evolução dos pacientes que iniciaram a medicação ainda assintomáticos apontam que 96,5% dos pacientes tiveram desenvolvimento motor adequado e 79,3% mantiveram o peso corporal (8805,3º percentil da OMS). No entanto, uma das pesquisas destaca que a medicação não impediu totalmente o curso da doença em sua fase sintomática. Eventos adversos graves ocorreram em 8 pacientes (62%), sendo os mais frequentes: insuficiência respiratória aguda (n = 4 [31%]), pneumonia (n = 4 [31%]), desidratação (n = 3 [23%]), dificuldade respiratória (n = 2 [15%]) e bronquiolite (n = 2 [15%]).

Apesar das pesquisas com amostras pequenas para avaliar o efeito da medicação no tratamento de AME, a AVXS-101 apresenta resultados satisfatórios principalmente em crianças ainda assintomáticas. Dessa forma, torna-se necessário um diagnóstico genético eficiente nos primeiros meses de vida para melhor efeito da medicação.

Palavras Chave: ONASEMNOGENE ABEPARVOVEC. ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL

 


 

Infectologia

O AUMENTO DOS CASOS DE SARAMPO: A REINTRODUÇÃO DO VÍRUS E A BAIXA ADESÃO À VACINAÇÃO NOS ÚLTIMOS 8 ANOS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

NATHALIA BRITO DUMAS (UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO, UNIGRANRIO ), LUIZA LOPES CARVALHO (UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO, UNIGRANRIO ), MARIANA BRITO DUMAS (HOSPITAL MUNICIPAL JESUS)

O sarampo é uma doença infecciosa aguda de origem viral, grave, transmissível e extremamente contagiosa, e, por isso, faz parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória (LNNC) de doenças, agravos e eventos de saúde pública, sendo que essa notificação deve ocorrer de forma imediata após a identificação de um caso suspeito (até 24 horas).

Destacar a importância da compreensão dos mecanismos correlacionados ao ressurgimento e controle do sarampo no Brasil.

Realizou-se uma revisão dos dados epidemiológicos de vacinação, número de casos de Sarampo no Brasil e dados do movimento migratório no país nos anos de 2015 a 2022.

Nos últimos 8 anos, o Brasil viu uma mudança no cenário epidemiológico. Em 2016, o país recebeu certificado internacional de erradicação do Sarampo, após os últimos 214 casos registrados em 2015, mas o perdeu 3 anos depois. Isso porque houve reintrodução da doença no território. Segundo dados obtidos pelo DATASUS, de 2016 a 2017, não tivemos nenhum caso registrado, mas, em 2018 voltamos a ter 9.325 confirmações da doença e em 2019, tivemos 20.901 registros da doença em todo o território nacional. Já de 2020 a 2022, tivemos 8.817 casos. No mesmo período, tivemos um aumento do número de imigrantes, principalmente venezuelanos, sem acesso ao sistema de saúde, e baixa adesão vacinal dos brasileiros em todo o território. Vale ressaltar que a Venezuela, em 2018, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), apresentava 84% dos casos de sarampo de 11 países da América Latina que reportaram a doença. Em 2016, o Brasil apr,esentou aumento de 12% do número de refugiados, ultrapassando a marca de 11mil pessoas no ano de 2018.

Até 2015, o percentual de cobertura vacinal para sarampo no Brasil chegou a 95%, mas, em 2016, esse mesmo índice apenas atingiu 50% da população. Em 2017, atingimos a marca de 72% e, nos anos seguintes, de 2020 a 2022, não conseguimos alcançar nem 70%, com apenas 68%,61% e 67%. Esses números demonstram a vulnerabilidade da população frente à uma doença prevenível com a vacinação.

Embora a migração não repercuta necessariamente como uma ameaça à saúde, ela pode aumentar a vulnerabilidade, tanto dos locais quanto dos imigrantes, pelo choque imunológico. Ao mesmo tempo que os que chegam são apresentados a um cenário desconhecido de agentes infecciosos, eles também introduzem novos patógenos na população que os acolhe. Uma população que já está naturalmente mais suscetível pela baixa adesão vacinal, tem, como consequência, a explosão do número de casos de uma doença que já estava erradicada. Dessa forma, é essencial recuperarmos os altos índices de vacinação para o sarampo, assim como incluir a população migratória no nosso sistema de saúde, sendo capaz de serem vacinados logo ao adentrar o território brasileiro.

Palavras Chave: SARAMPO, VACINAÇÃO, MOVIMENTO MIGRATÓRIO

 


 

Infectologia

TUBERCULOSE OSTEOARTICULAR E TORÁCICA EM PRÉ-ESCOLAR: A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DE CONTATO

FLAVIA NUNES BENICIO DE SOUZA (UFF), JOÃO ALEXANDRE RANZEIRO DE BRAGANÇA DOS SANTOS (UFF), JAYME RIBEIRO CORRÊA (UFF), DOUGLAS CASTANHEIRA COELHO (UFF), RONALDO DI CICCO CUNHA (UFF), CLARISSA NETTO DOS REYS LAIA FRANCO PRILLWITZ (UFF), LUÍS MARCELO DE AZEVEDO MALTA (UFF), TATIANA GUIMARÃES DE NORONHA (UFF), CLAUDETE APARECIDA ARAÚJO CARDOSO (UFF), CHRISTIANE MELLO SCHMIDT (UFF)

A tuberculose (TB), causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb), é transmitida por gotículas eliminadas de pessoas com TB pulmonar ou laríngea. Avaliar contatos é estratégia para o controle da TB, permitindo identificar e tratar pessoas com infecção latente da TB (ILTB) ou TB ativa. O Ministério da Saúde (MS) do Brasil, na avaliação de contatos em crianças menores de 10 anos, recomenda a avaliação clínica, radiografia de tórax e a prova tuberculínica (PT) ou a dosagem de interferon gama (Igra, 2-10 anos) para o diagnóstico de ILTB. Se negativos, orienta-se a repetição da PT ou Igra após oito semanas. Se houver viragem tuberculínica (aumento de 10mm) ou positividade do Igra, é diagnosticado ILTB. Indica-se o tratamento com isoniazida (H) por 6-9 meses ou rifampicina (R) quatro meses ou rifapentina mais H semanalmente por três meses (3HP). Descreve-se o caso de pré-escolar com oportunidade perdida na avaliação de contatos.

Paciente masculino, 2 anos, internado com sinais flogísticos em joelho esquerdo há um mês e febre, sem resposta a tratamento para patógenos comuns. Sem sintomas respiratórios. Cicatriz de BCG presente. A mãe, o padrasto e o irmão trataram TB pulmonar há um ano e meio da internação. À época, a criança estava assintomática, com radiografia de tórax normal e prova tuberculínica (PT) negativa. A PT não foi repetida. Na internação, a radiografia de joelho mostrou imagem lítica no côndilo medial de fêmur esquerdo e a tomografia de tórax, focos de consolidação nos ápices pulmonares, lobo médio, linfonodos mediastinais calcificados e acometimento de costela. A biópsia (fêmur) mostrou processo inflamatório crônico granulomatoso, necrose caseosa e detecção do Mtb, Ultra Xpert® positivo, sensível à rifampicina (R). Iniciado R, isoniazida (H) e pirazinamida (P), com boa evolução.

As crianças têm risco aumentado de evolução para TB ativa após a infecção primária, especialmente nos dois primeiros anos da infecção, como visto no caso. O tratamento adequado da ILTB o reduz em 60-90%. As crianças e os indivíduos imunocomprometidos apresentam, mais comumente, formas extrapulmonares, sendo possível a associação com a forma pulmonar nos casos mais graves. Embora o paciente fosse assintomático respiratório, a TC de tórax identificou acometimento torácico. A TB osteoarticular corresponde a 5% das formas extrapulmonares em pediatria e possui clínica similar a outras doenças, podendo causar danos funcionais, ao crescimento e deformidades. Na TB extrapulmonar, a biópsia, com granuloma e necrose central, exames bacteriológicos e moleculares são relevantes para a elucidação diagnóstica, como observado no relato. A OMS recomenda um ano de tratamento (2RHP e 10RH) para casos de TB osteoarticular e meníngea, em todas as idades. Conclui-se que conhecer o protocolo da investigação de contatos de TB é fundamental. A repetição da PT poderia ter diagnosticado ILTB cujo tratamento, de menor duração, poderia evitar a TB ativa.

Palavras Chave: TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR, TUBERCULOSE OSTEO-ARTICULAR,

 


 

Adolescência

MITOS SOBRE CIGARRO ELETRÔNICO DIVULGADOS PELA AUDIÊNCIA NO SENADO: O QUE REALMENTE DIZ AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS NA ADOLESCÊNCIA?

GABRIELA GUELBER MAGRANI (UFRJ), GABRIELA ARAKAKI FARIA (UFRJ), ANTONIO FERREIRA PENA MACIEL (UFRJ), LÍVIA QUINTELLA BAPTISTA (UFRJ), LARISSA DOS LOUROS PEREIRA (UFRJ), LUAN CAVALCANTE VILAÇA LIMA (UFRJ), CAROLINA COSTA (UFRJ)

De acordo com estudos recentes, a iniciação ao tabagismo ocorre na adolescência, em torno dos 15 anos, e cerca de 90% dos tabagistas o fazem antes dos 19 anos. Por isso, o tabagismo é reconhecido pela OMS como doença pediátrica. Diante desse cenário, o início da disseminação do uso de cigarros eletrônicos fomenta ainda mais o tabagismo entre os jovens, podendo piorar com a capitalização do comércio legal. Então, torna-se necessário debater falácias ditas como argumentos a favor da legalização do comércio de cigarros eletrônicos, como ocorreu em audiência do Senado.

Reunir dados de artigos relacionados aos cigarros eletrônicos, contrariando cientificamente falácias expostas na audiência do Senado de 28/9/23 sobre cigarro eletrônico.

Para essa revisão narrativa de literatura, foi realizada uma busca em outubro/23 na base de dados PubMed, filtrando artigos desde 2015. As palavras-chave incluíam termos para capturar conceitos associados a "vape", "cigarro eletrônico", "nicotina" e "tabaco".

Diante do crescimento do uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes, surge a preocupação acerca da exposição da nicotina a jovens, que teriam menor pretensão de seu fazer uso por meio de cigarros convencionais. Nesse cenário, faz-se necessário contestar a ideia de que o cigarro eletrônico não é uma porta de entrada para o tabaco e que é menos prejudicial à saúde.

A ideia de que cigarros eletrônicos são mais aceitos socialmente colabora para que seu uso seja favorecido em relação ao de cigarros convencionais. Estratégias midiáticas e a utilização de sabores e design, mascaram a periculosidade do produto e facilitam a aceitação por pais e responsáveis em comparação com o tabaco.

Apesar da disseminação de informações controversas sobre esses dispositivos não serem prejudiciais à saúde, há evidências de que os elementos na composição dos cigarros eletrônicos são danosos. A nicotina é capaz de causar alterações cognitivas principalmente em adolescentes, cuja atividade neuronal ainda está em maturação. O Propilenoglicol e Glicerina vegetal quando inalados danificam o epitélio das vias aéreas. Já a inalação de metais presentes nos cigarros pode gerar inflamação e perda funcional no pulmão.

O uso de cigarros convencionais também é maior entre os adolescentes que já tiveram contato com o cigarro eletrônico previamente. Isso os torna mais propensos a terem boas expectativas sobre o cigarro, como a ideia de que vão deixá-los mais confiantes e ajudá-los a relaxar, além de aumentar a suscetibilidade de experimentar cigarros convencionais pela inserção nesse ciclo social.

Diante do exposto, a literatura sugere fortemente que os cigarros eletrônicos são uma porta de entrada para o tabagismo, além de também serem prejudiciais à saúde. Assim, torna-se essencial combater com dados científicos posturas falaciosas para legalização desse produto, como as vistas na audiência do Senado, uma vez que tal discurso torna os jovens mais vulneráveis a substâncias viciantes e danosas.

Palavras Chave: CIGARRO ELETRÔNICO, VAPE, AUDIÊNCIA NO SENADO, MITOS