Revista de Pediatria SOPERJ

Artigo Original

Relevância das Ligas Acadêmicas no Contexto de Pandemia: uma avaliação da eficácia das atividades remotas

Relevance of Academic Leagues in the Pandemic Context: an assessment of the activity of remote activities

Marcela Moraes Oliveira; Caroline Oliveira Soares; Giuseppe Carmine Pastura; Cecilia Novelli Mendes; Ruth FIszon Zagarodny; Clara Perini Fiorot; Taynara Martins Montalvão; Sarah Azevedo Andrade; Felippe Souza Oliveira; Guilherme Sant'Anna Lira; Beatriz Oliveira Duarte

DOI:10.31365/issn.2595-1769.v23i2p34-40

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Liga Acadêmica de Pediatria (LAPed) - Rio de Janeiro - RJ - Brasil

marcelacmoraeso@yahoo.com

Recebido em: 18/07/2022
Aprovado em: 12/06/2023

Resumo

INTRODUÇÃO: No contexto da pandemia da Covid-19, as ligas acadêmicas assumiram um novo papel na formação do conhecimento mediante à promoção de atividades online e do contato interpessoal, por meio de reuniões periódicas via internet que abordam temas relevantes no âmbito de inserção da Liga.
OBJETIVO: O estudo atual visa analisar a eficácia das atividades remotas promovidas pelas Ligas Acadêmicas na formação de conhecimento durante a época de pandemia por SARS-CoV-2 e isolamento social.
MÉTODOS: Aplicação de questionários virtuais a alunos de graduação que participaram das aulas online promovidas pela Liga Acadêmica de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LAPed-UFRJ) no segundo semestre de 2020. Desta forma, foi avaliada a contribuição das aulas para o processo de aprendizagem dos alunos por meio da conferência do número de acertos às mesmas questões, antes e após o contato com os temas ofertados pela LAPed-UFRJ. A pesquisa foi realizada em 3 dias distintos e contou com a participação de 101 graduandos. Como critério de inclusão era necessário que os participantes, obrigatoriamente, pertencessem a algum curso de graduação na área da saúde.
RESULTADOS: Os resultados demonstram que o número de acertos a questões aumenta após a participação das aulas promovidas pela liga.
CONCLUSÃO: As Ligas Acadêmicas assumem grande relevância no processo de ensino e aprendizagem do corpo discente, além de permitir a troca de experiências e vivências a partir da abordagem de temas que não seriam oferecidos aos ligantes em seus respectivos cursos de graduação.

Palavras-chave: Educação. Pediatria. Estudantes

Abstract

INTRODUCTION: In the context of the Covid-19 pandemic, academic leagues assume a new role in the formation of knowledge by promoting online activities and interpersonal contact, through periodic meetings via the internet that address relevant topics within the scope of the insertion of the League.
OBJECTIVE: The current study aims to analyze the effectiveness of the remote activities developed by the Academic Leagues in the formation of knowledge during the time of the SARS-CoV-2 pandemic and social isolation.
METHODS: Application of virtually to undergraduate of health who participated in online classes by the Academic League of Pediatrics of the Federal University of Rio de Janeiro (LAPed-UFRJ) in the second half of 2020. In this way, the contribution of classes to the process of student learning by checking the number of correct answers to the same questions, before and after contact with the topics offered by LAPed-UFRJ. The research was carried out in 3 different days and outline with the participation of 101 undergraduates. As inclusion of inclusion, it was necessary that the participants, obligatorily, belong to an undergraduate course in the area of health.
RESULTS: The results showed that the number of correct answers to questions increased after participating in classes promoted by the league.
CONCLUSION: The Academic Leagues assume great affinity in the teaching and learning process of the student body, in addition to allowing the exchange of experiences from the approach of themes that would not be offered to the ligands in their respective internship courses.

Keywords: Education. Pediatrics. Students.

Introdução

A história das ligas acadêmicas (LAs) se inicia por volta de 1920, ano da criação da Liga de Combate à Sífilis, na Universidade de São Paulo.^1,2 A partir dela, os acadêmicos, usando como base o conhecimento adquirido ao longo do curso, foram capazes de auxiliar os pacientes com esta infecção sexualmente transmissível e promover a disseminação de medidas profiláticas de maneira gratuita, o que era muito importante ao se considerar o contexto de epidemia pela doença que ocorria naquele período.³ Apesar disso, foi somente quarenta anos após, durante o regime militar, que as ligas acadêmicas começaram a se expandir. Nesse contexto, as LAs representavam uma forma de protesto e questionamento em relação ao método de ensino que era proposto nas universidades.^4,5

Após a Constituição de 1988, as ligas começaram a alcançar cada vez mais espaço no meio universitário, principalmente devido à fundamentação e à consolidação do tripé universitário, composto pelos ideais de ensino, pesquisa e extensão.³ Tal crescimento é reforçado principalmente pela criação da Associação Brasileira das Ligas Acadêmicas de Medicina (ABLAM), em 2005, que evidenciou a importância das ligas acadêmicas.³ Houve, nas últimas décadas, então, uma expansão e disseminação cada vez maior das atividades propostas por LAs dentro do ambiente universitário, uma vez que, apesar de apresentarem certas limitações, estas são essenciais para a garantia da autonomia do estudante, já que o estimulam a buscar ativamente por temas dentro de uma área de interesse, permitindo que ele realize pesquisas científicas sobre o assunto em foco e possibilitando a integração entre o conhecimento adquirido no âmbito universitário e a sociedade.

Outrossim, elas são peças essenciais na representação do tripé acadêmico,¹ uma vez que possibilitam o exercício da pesquisa, do ensino e da extensão. Em relação ao ensino, as ligas possibilitam a expansão do contato do acadêmico com a prática de alguma especialização,² seja a partir do estreitamento do contato com profissionais atuantes da área, seja por meio do incremento do contato entre ele e os assuntos abordados naquela especialidade, o que pode ser essencial para o direcionamento do estudante para determinada carreira.⁷ Além disso, as ligas estão associadas à promoção de uma interação ativa do acadêmico com o tema, o que é observado nos cursos, nas mesas-redondas, nos simpósios e nos eventos organizados pela liga, que são sempre estruturados quase exclusivamente dos discentes para os discentes. Isso também está envolvido com uma complementação e com um refinamento em relação ao conteúdo que é normalmente trabalhado na grade curricular da instituição,⁷ o que também se reflete como uma das características do ensino. Sob a perspectiva da pesquisa, por outro lado, a liga funciona como um estímulo aos estudantes para que estes adotem uma posição ativa em seu processo de aprendizagem⁸ e que sejam capazes de buscar sobre mais temas em relação àquele tema específico. Para mais, as LAs assumem uma posição de incentivo para a atualização sobre o que tem sido debatido naquele âmbito, o que beneficia a formação acadêmica do discente envolvido e representa um incremento ao seu currículo, o que costuma ser um grande incentivo para a adesão do aluno a uma liga acadêmica.² Por fim, a disseminação do conhecimento para além do contexto médico fica a cargo da extensão, que permite que haja interação entre o meio acadêmico e a sociedade,⁴ principalmente através da produção de conteúdo científico e acessível.

Entretanto, é válido ressaltar que a atuação das ligas não é irrestrita e que elas podem se desvirtuar de seus objetivos iniciais. Pelo fato de as ligas visarem estreitar o contato entre o estudante e uma área da medicina, eas podem acabar representando uma forma de especialização precoce,⁶ o que não faz parte das competências das LAs. Outro fator é a possibilidade de transmissão de técnicas e conceitos equivocados que podem acontecer sem supervisão adequada,⁶ o que contribui negativamente para a formação do aluno. Ademais, como as LAs se baseiam em uma atividade extracurricular, existe uma carga horária reduzida que pode ser dedicada a elas, em virtude da extensão do programa obrigatório das universidades. Assim, o tempo de dedicação que o aluno tem disponível para o envolvimento nessas atividades acaba sendo escasso, o que representa um fator limitante para a continuidade das atividades desses grupos. Apesar de existirem, tais limitações não são determinantes para o exercício da atividade das ligas acadêmicas, o que pode ser confirmado pelo fato de que, atualmente, existem milhares de ligas espalhadas pela maioria das faculdades de medicina do Brasil, sendo entidades de grande importância para elas.

Nesse ínterim, as ligas acadêmicas se fazem relevantes, principalmente por proporcionarem maior protagonismo aos discentes, uma vez que são organizadas por estes. Desse modo, o processo criativo deixa de ser limitado e os estudantes passam a ter mais autonomia em sua formação, favorecendo um desenvolvimento crítico.¹ Por este motivo, acadêmicos da área da saúde buscam, há tempos, por essas instituições, com o fito de ampliar a vivência prática, consolidar conhecimento e como meio de qualificação profissional. No ano de 2020, contudo, no cenário da pandemia pelo SARS-Cov2, as ligas acadêmicas passaram a ocupar um novo espaço no cotidiano dos alunos que dela fazem parte.

No contexto da pandemia pelo SARS-CoV-2, ocorreu uma adaptação e uma reinvenção no modo de atuação das ligas acadêmicas.¹⁰ Nesse contexto, e em respeito às medidas de isolamento social, em março de 2020, universidades de todo o país - a exemplo das Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Mato Grosso do Sul (UFMS), de Itajubá (UNIFEI) e do ABC (UFABC) - suspenderam aulas presenciais, a fim de evitar acréscimos expressivos nas taxas de contágio e preservar a saúde física dos estudantes, funcionários e frequentadores dos ambientes de ensino e aderiram, com autorização do Ministério da Educação, ao método de ensino remoto.¹¹ Com a interrupção das aulas presenciais, as ligas foram impossibilitadas de dar continuidade à maior parte de suas atividades, que se baseiam, principalmente, nas aulas - tanto teóricas quanto práticas - e reuniões realizadas dentro do espaço da universidade. Assim, foi necessário haver um remodelamento no seu funcionamento, com a inovação e a adoção de novos mecanismos de funcionamento que dessem seguimento a suas atividades nesse contexto de instabilidade e distanciamento entre os estudantes.¹⁰ Foi então que a Liga Acadêmica de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LAPed-UFRJ) assumiu um novo papel no que diz respeito à formação do conhecimento, mediante a promoção de atividades on-line - como o compartilhamento de informações por intermédio de postagens em redes sociais - e do contato interpessoal, por meio de reuniões periódicas via internet que abordam temas relevantes no âmbito de inserção da Liga.

Assim, sob a justificativa de preencher as lacunas existentes na literatura acerca de informações sobre a real contribuição das atividades remotas promovidas pelas Ligas Acadêmicas, foram notadas a viabilidade e relevância da elaboração de um projeto de pesquisa com ênfase na disseminação de conhecimento no contexto da pandemia por SARS-CoV-2 - uma vez que as aulas e palestras oferecidas por estas organizações foram adaptadas de modo a ocorrerem, em sua totalidade, no formato on-line, tendo atingido um número de pessoas superior àquele apresentado antes da época de isolamento social nas atividades presenciais - com o fito de avaliar se há efetividade no ensino dos participantes e, com isso, analisar a possibilidade de manter de forma remota certas atividades oferecidas.

Metodologia

Trata-se de um estudo que teve como universo de pesquisa alunos de graduação que participaram das aulas ofertadas pela LAPed-UFRJ. A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de questionários, criados pela plataforma on-line Google Forms, com questões referentes ao tema explanado nas aulas promovidas, antes e após as ministrações on-line entre agosto e outubro do ano de 2020.

Foram priorizados os temas que são pouco abordados durante a graduação dos cursos aos quais os ligantes pertencem. Assim, a diretoria LAPed realizou uma seleção de temas e profissionais, tendo como base o currículo e as matérias previstas nas grades acadêmicas dos cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para a promoção das atividades de aulas.

No que diz respeito às perguntas relacionadas aos assuntos abordados, a análise dos dados coletados foi feita comparativamente, relacionando o número de acertos obtidos antes e após o contato com o conteúdo oferecido pela liga. As questões foram planejadas previamente pela diretoria da LAPed e revisadas pelos professores responsáveis pela ministração de cada aula.

Ao todo, foram aplicados seis questionários pela LAPed-UFRJ, sendo dois aplicados por aula em cada uma das atividades promovidas pela Liga durante o semestre. Um dos questionários era aplicado em um momento anterior à ministração e o tempo disponibilizado para respostas era de 30 minutos; o outro, idêntico ao primeiro, aplicado após a aula ofertada no dia em questão, com igual tempo de conclusão.

Nesse cenário, o primeiro e o segundo formulários, aplicados na primeira aula ofertada, contaram, cada um, com 44 respostas; no terceiro e no quarto, o número de pessoas que forneceram informações foi de 32, em cada um; o quinto e o sexto apresentaram 25 respostas cada. Entre a realização dos questionários, não houve qualquer divulgação de gabarito ou semelhantes, de modo que o aumento do percentual de acertos deveu-se exclusivamente ao conhecimento adquirido durante as aulas.

Para fins de análise e comparação, os questionários referentes a cada aula ofertada pela LAPed-UFRJ foram considerados como experimentos e agrupados de acordo com o momento da aplicação. Dessa forma, a "Experiência 1" corresponde aos formulários respondidos antes e após a primeira aula oferecida pela liga acadêmica, a "Experiência 2" equivale ao pré e ao pós-questionário aplicados no dia da apresentação do segundo tema e a "Experiência 3" condiz com os formulários preenchidos no dia da terceira palestra.

Após o preenchimento dos formulários, uma equipe composta por 10 pessoas, integrantes da diretoria da LAPed, realizou a validação de cada um destes, excluindo respostas de ouvintes que não eram alunos de graduação, daquelas pessoas que preencheram apenas um dos formulários de determinada data e dos que não haviam assistido a toda a palestra - sendo esta validação realizada a partir da informação de palavras-chave que apareciam na tela durante a aula - para evitar viés de confundimento.

Para a análise dos dados, foram gerados gráficos e planilhas que separavam as respostas de pré e pós-questionários de acordo com o curso de graduação e o período dos alunos participantes, a fim de delinear o perfil dos participantes.

Por fim, os resultados válidos foram processados em planilhas e tabelas, disponíveis no corpo do presente trabalho para análise.

Resultados

Perfil dos participantes

O estudo contou com a participação de alunos de graduação dos cursos de Medicina, Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Fonoaudiologia, Educação Física e outros cursos, incluindo Saúde Coletiva, Psicopedagogia e pós-graduação, conforme demonstrado na Tabela 1.

Acertos nas questões antes e após a aula ministrada

Convém ressaltar que todos os resultados são referentes aos participantes que preencheram os formulários pré e pós-teste. No que diz respeito aos testes aplicados antes e após as ministrações, houve variação na porcentagem de acertos nos dois momentos, conforme Gráfico 1.

Gráfico 1. Gráfico em barras demonstrando os acertos (em porcentagem) das questões em um momento antes da aula oferecida pela LAPed-UFRJ e após a aula oferecida pela liga separados por experimento.

No primeiro dia, a média de acertos no primeiro teste foi de 67,19%; e no segundo teste, após as atividades desenvolvidas, de 85,25%. No segundo dia, de 58,44% no pré-questionário, a média de acertos passou para 75% no pós-questionário. Nos formulários do terceiro dia, percebeu-se um aumento de aproximadamente 33%, passando de 36,1% da média de acertos no formulário antes da aula para 69,33% após a ministração.

Temática das aulas

Em todos os questionários, 100% dos participantes definiram os assuntos abordados nas aulas promovidas pela LAPed-UFRJ como relevantes, a saber: 1) Obesidade Infantil; 2) Abordagem Diagnóstica da Criança com Câncer; e 3) A Pandemia de Covid-19 e o Impacto Clínico-Funcional nas Crianças com Deficiências.

Com o objetivo de avaliar a relevância da participação das aulas idealizadas pela Liga Acadêmica de Pediatria na formação profissional dos espectadores, foi questionado se em algum momento da graduação a temática abordada nas ministrações realizadas pela LAPed é prevista na grade curricular, alcançando os resultados representados no Quadro 1.

Discussão

A partir das experiências realizadas pela LAPed-UFRJ, verificou-se a importância das aulas promovidas pela liga para o aprendizado no contexto da pandemia, tendo em vista o significativo aumento no índice de respostas corretas nos formulários respondidos antes e após as ministrações. Isso validou a eficácia dessas ministrações, uma vez que o percentual de acertos observado nas perguntas dos pós-questionários superou, em todas as experiências, a quantidade de respostas certas nos pré-questionários. Mostra-se, então, que as aulas ofertadas pela liga atuam como importante agente de formação do conhecimento.

O presente estudo corrobora a proposição de que a liga acadêmica apresenta relevância enquanto formadora de conhecimento dos estudantes de graduações em áreas da saúde, de modo que as aulas lecionadas se associam a melhores desempenhos em testes referentes às temáticas abordadas quando comparados aos resultados obtidos em testes realizados em um momento anterior à discussão das temáticas propostas. Ademais, é possível constatar a significância dos temas discutidos pela Liga de Pediatria da UFRJ, tendo em vista que, em todas as experiências, mais de 10% dos espectadores não teriam contato com os assuntos discutidos senão pelas atividades propostas pela LAPed, já que esses temas não estão previstos na grade curricular de seus cursos, conforme demosntrado no Quadro 1. Nota-se, ainda, a abrangência da liga, uma vez que o público de suas aulas é composto por estudantes de diferentes graduações, não estando restrita, portanto, à faculdade de Medicina.

Nesse âmbito, cabe ressaltar que a quantidade de acertos no questionário aplicado após a aula cujo tema ministrado foi "Obesidade Infantil" mostrou-se superior à média de respostas corretas observadas nos demais temas. De maneira oposta, a pior pontuação registrada foi referente ao pós-teste da terceira aula, com assunto "A Pandemia de Covid-19 e o Impacto Clínico-Funcional nas Crianças com Deficiências".

É interessante frisar que apenas 13,6% dos entrevistados relataram não ter nenhum tipo de contato com o tema correspondente à primeira aula até o momento da graduação em que se encontravam, enquanto 32% afirmaram a falta de contato com a temática da aula 3. Isso corrobora a proposição de que o aprendizado oferecido pelas LAs deve ser complementar àquele fornecido pelas universidades, e não substitutivo. Devido aos fatores limitantes enfrentados pelas ligas acadêmicas (como o tempo escasso de carga horária), é plausível que elas atuem de modo a adicionar novas informações a respeito de temas já abordados durante a graduação, enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem dos discentes. No entanto, a atividade das ligas torna-se menos proveitosa nas situações em que são introduzidos temas completamente desconhecidos pelos graduandos.

Ademais, convém registrar que análises estatísticas realizadas a partir do teste t de Student demonstram que o p-valor de apenas seis das questões aplicadas nos três dias de experimento apresentaram aumento estatisticamente relevante na quantidade de acertos entre os pré e pós-testes, conforme Tabela 2.

Partindo de uma outra vertente, convém analisar o resultado obtido no terceiro dia de experimento, no qual as pontuações alcançadas foram as menores em comparação com todas as experiências, tanto no momento anterior quanto posterior à ministração. Nesse sentido, é importante analisar o perfil do corpo discente em ambas as situações e refletir acerca de possíveis contratempos apresentados durante a atividade em questão, como o tempo de duração da palestra, a densidade das informações repassadas e o método de ensino adotado pelo palestrante, a fim de justificar o ocorrido. Nesse caso, a escassez de informações a este respeito impede uma conclusão sólida. Cabe ressaltar que, das aulas ministradas, a referida apresentou o maior tempo de duração, demonstrando uma possível relação entre aulas longas e a queda do rendimento do alunado no formulário. Ademais, por se tratar de um tema absolutamente novo e mal compreendido inclusive pelos pesquisadores na época da pesquisa, é notória uma maior dificuldade dos ligantes no que diz respeito à compreensão do assunto.

Por fim, ressalta-se que o estudo apresenta como limitações um espaço amostral reduzido, além de uma quantidade limitada de experimentos. Dessa maneira, não é possível estender os resultados obtidos a um contexto geral de estudantes de graduação durante o período de pandemia por SARS-CoV-2.

Conclusão

É perceptível que as Ligas Acadêmicas assumem grande relevância no processo de ensino e aprendizagem do corpo discente, sendo um importante meio de inserção e contato dos alunos com a área pretendida e com profissionais, de modo a permitir a troca de experiências e vivências. Outrossim, nota-se o papel da LAPed-UFRJ enquanto entidade promotora de conhecimento, uma vez que aborda temas que não seriam oferecidos aos ligantes em seus respectivos cursos de graduação, inclusive durante o isolamento social, quando os alunos se encontravam sem atividades acadêmicas presenciais.

No entanto, o presente estudo não pode ser traduzido como uma amostra fidedigna do que ocorre em todas as ligas acadêmicas e em todas as universidades, tendo em vista que a amostra populacional disponível para a realização da pesquisa foi escassa. E ainda, na maior parte das questões oferecidas, a diferença entre o número de acertos antes e após as ministrações não foi significativamente relevante de acordo com o cálculo de p-valor. Além disso, vale ressaltar a limitação do estudo no que diz respeito à retenção do conhecimento adquirido, uma vez que não foram aplicados novos testes em um futuro mais distante, como de um a quatro meses após a ministração.

Desta maneira e, tendo em vista a quantidade insatisfatória de materiais a respeito de organizações tão relevantes, mais estudos sobre a temática são necessários para afirmar se, de fato, as ligas acadêmicas suprem as lacunas de ensino do currículo universitário padrão.

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