Revisoes em Pediatria
Linfangiectasia pulmonar na infância
Aline Liporrage do Amor Divino Nogarol
Trabalho realizado no Instituto de Puericultura e Peditria Martagao Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ). Ex-especilizanda do curso de Especializaçao em Pneumologia Infantil do IPPMG-UFRJ.
Endereço para correspondência:
Instituto de Puericultura e Pediatria Martagao Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ).
Av. Brig Trompwsky s.n. Cidade Universitária Ilha do Fundao.
Cep 21941-590, Rio de Janeiro, RJ
Resumo
OBJETIVO: Descrever aspectos clínicos, radiológicos, histopatológicos e terapêuticos sobre linfangectasia pulmonar na infância, entidade rara, de reconhecimento difícil.
MÉTODO: revisão da literatura através do banco de dados PubMed.
CONCLUSÃO: a linfangestasia pode se apresentar sob as formas primária (ou congênita) e secundária. No primeiro caso, pode ser de aparecimento precoce ou tardio, sendo, esta forma, de diagnóstico mais difícil que a anterior. A suspeição clínica e a realização de biópsia pulmonar na maioria das vezes selam o diagnóstico. O tratamento é muito limitado.
Palavras-chave: Linfangiectasia pulmonar, malformaçao; congênita; criança
Abstract
OBJECTIVE: To describe clinical, radiological and histopatological and therapeutic features of the pulmonary lymphangectasis (PL) in children, a rare and a difficult to recognize disease.
METHODS: a non systematic review based on Pubmed databank.
CONCLUSION: PL may be primary or congenital and secondary forms. The primary PL may be a early or late onset one; the last is more difficult to diagnose than the late PL. Clinical suspicion and pulmonary biopsy confirm the diagnosis. The treatment is very limited.
Keywords: pulmonary lymphangectasis; congenital lung malformations; child
INTRODUÇÃO:
A linfangiectasia pulmonar (LP) é uma condição rara na qual se observa proliferação e dilatação dos vasos linfáticos(1). Há dois tipos: a linfangiectasia pulmonar congênita (LPC) ou primária, provavelmente por desenvolvimento anômalo de vasos linfáticos pulmonares, e a secundária, como conseqüência de uma obstrução da drenagem linfática ou de uma cardiopatia congênita com obstrução do retorno venoso.(2) A classificação mais utilizada para LP foi a proposta por Noonan e col.(3) e divide a LP em 3 grupos: grupo 1, fazendo parte de uma linfangiectasia generalizada, com hemihipertrofia e linfangiectasia intestinal; grupo 2, associada à cardiopatias congênitas que dificultem o retorno venoso pulmonar; grupo 3, isolada, por defeito primário no desenvolvimento de linfáticos pulmonares.
A LP também tem sido descrita em associação à outras alterações clínicas como a Síndrome de Noonan, asplenia, ictiose ou fazendo parte de uma nova condição autossômica recessiva, caracterizada por linfangiectasia pulmonar congênita, quilotórax, edema facial e de membros inferiores(4).
Clínica: A LPC limitada aos pulmões pode ser de inicio precoce ou tardio. A apresentação precoce é a mais comum e se caracteriza por desconforto respiratório importante com dispnéia e cianose no período neonatal, geralmente com óbito nas primeiras horas de vida é comum a presença de quilotórax.(5,6) Na maioria dos casos não há intercorrência durante a gestação e o parto. Seu diagnóstico não é fácil pois a clínica é bem semelhante à outras causas de desconforto respiratório em recém nascidos como doença da membrana hialina, algumas cardiopatias congênitas, atelectasia fetal, Mikity-Wilson. A presença de quilotórax aumenta o grau de suspeição e pela sua alta mortalidade não há tratamento descrito.
Na apresentação tardia os sintomas surgem no período pós-neonatal e sua evolução vai depender da extensão da doença pulmonar. A forma localizada geralmente acomete um ou dois lobos pulmonares com melhor prognóstico que a difusa uma vez que o tratamento é a ressecção do lobo ou lobos afetados.(7) A forma difusa é mais rara e há acometimento bilateral dos pulmões.
Na literatura existem poucos casos de LPC isolada difusa e de início tardio(7,8,9).
Todos apresentaram uma evolução bastante semelhante, com aparecimento de tosse, derrame pericárdico, quilotórax e infiltrado reticulo nodular difuso, com prognóstico muito ruim. Contrariamente, Barker e col.(2), em trabalho restropectivo, sugerem que a LPC difusa de início pós natal não apresente um prognóstico tão ruim quanto o descrito na literatura.
DIAGNÓSTICO:
O padrão radiológico clássico na LP é infiltrado reticulo nodular difuso, o que não permite o diagnóstico diferencial entre processos infecciosos pulmonares e cardiopatias congênitas congestivas.
No entanto, a presença de infiltrado reticulo nodular difuso mantido que não melhora com uso de antibiótico ou diurético, é um fator de extrema importância para se pensar em LP. Linhas B de Kerley indicativas de linfáticos dilatados também podem ser encontradas (FIGURAS 1 e 2). Já a presença de derrame pleural é infreqüente, porém alguns casos podem apresentar derrame pleural de característica quilosa.(7,10,11) O aparecimento de pneumotórax é raro(12).
O diagnóstico de certeza é histopatológico através de biópsia pulmonar. O exame anátomo-patológico revela dilatação dos vasos linfáticos subpleurais, interlobares, perivasculares e peribronquicos (FIGURA 3). Durante o período de investigação, muitas vezes o paciente é submetido à prova terapêutica para outras doenças pois o diagnóstico é pouco lembrado, pela sua raridade(11).
A linfografia deve ser realizada, não só para descartar obstrução linfática, como para auxiliar no diagnostico.
Tratamento: O tratamento da LPC isolada localizada é curativo com ressecção da área afetada.
Já o da forma difusa é paliativo e tem como objetivo evitar o acúmulo de linfa nas serosas. Baseado nisto lança-se mão da terapia dietética com triglicerídeos de cadeia média ou nutrição parenteral pois a absorção se dá diretamente pelo sistema portal, o que leva à diminuição na formação de linfa.
Diante da falência do tratamento conservador, lança-se mão do tratamento cirúrgico (pericardiectomia, pleurodese, circlagem da artéria pulomonar , ligadura do ducto torácico, shunt pleuroperitoneal, pleurectomia e abrasão pleural). Atualmente, os métodos mais utilizados em relação ao quilotórax são pleurectomia com pleurodese química associado ou não a ligadura de ducto torácico(11,13).
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