Anais do X Congresso de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro
Associação de cistite hemorrágica com o uso de ketamina em altas com doses em pediatria
Raquel de Seixas Zeitel; Camila Furtado Guedes Pinto; Rodrigo Moulin Silva; Natalia de Sousa Nascimento; Pedro Dutra Barros; Bruna Ferro Filardi
Hospital Universitário Pedro Ernesto.
RESUMO
O aparecimento de cistite hemorrágica associada ao uso de altas doses de ketamina, já foi descrito no contexto do uso recreativo abusivo e no tratamento de dor crônica. Relata-se aqui um caso de uso de altas doses de ketamina em paciente pré-escolar com objetivo de sedação para ventilação mecânica evoluindo com cistite hemorrágica documentada ultrassonograficamente. Criança de quatro anos, feminina, negra, natural e moradora do Rio de Janeiro, com diagnóstico de epilepsia há dois anos, em uso crônico de fenobarbital e topiramato, internou na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Universitário Pedro Ernesto com quadro de coma barbitúrico. Necessitou de ventilação mecânica invasiva, inicialmente pelo coma e posteriormente devido a um quadro de obstrução respiratória alta que se seguiu após sua extubação. A paciente precisou do uso de altas doses de medicamentos sedativos, dentre os quais estava a ketamina, na dose máxima de 40 μg/kg/min. Após sete dias do seu uso passou a apresentar hematúna macroscópica com grumos de sangue vermelho-rutilante. O exame sumário de urina confirmou a hematúna e o rastreio infeccioso (incluindo urinocultura para germes comuns e exame direto para fungo) foi negativo. A ultrassonografia das vias urinárias evidenciou rins normais, ausência de cálculos e imagem amorfa e ecogênica na parede da bexiga, sugestiva de coágulos sangüíneos. Feito o diagnóstico de cistite hemorrágica, o tratamento baseou-se na suspensão da ketamina e aumento da oferta hídrica. A melhora do quadro ocorreu após 48 horas, com a normalização do aspecto macroscópico da urina. Apesar das infecções representarem a principal causa de cistite hemorrágica, a associação à ketamina tem sido descrita recentemente e tratada com suspensão da droga. Nosso objetivo neste artigo foi chamar atenção dos intensivistas pediátricos para esta nova entidade clínica como causa de hematúria em crianças internadas em uso de altas doses de ketamina.
Responsável
Natalia de Sousa Nascimento