Revisoes em Pediatria
Dermatite atópica
Elisa Fontenelle
Membro do Comitê de Dermatologia da SOPERJ
A Dermatite Atópica (DA) é uma das dermatoses mais comuns, quase sempre tendo início na infância. Existe uma predisposição genética ao lado de influências do meio ambiente. Seu curso é recorrente e o sintoma chave é o prurido. O tratamento engloba desde a educação dos pais até o uso eventual de medicamentos imunossupressores.
EDUCAÇÃO - É importante, na primeira consulta, deixar claro o diagnóstico, explicando o curso natural da doença para que não haja falha no acompanhamento da criança nem falta de adesão ao tratamento. Os controles do domicílio e do ambiente em que a criança vive são de grande importância. Deve-se evitar o uso de tapetes, carpetes, cortinas e colchões que não possam ser lavados. Deve-se manter as portas dos armários fechadas para não haver acúmulo de poeira. A casa não deve ser varrida, deve ser limpa com pano úmido na ausência da criança . O calor agrava a irritação cutânea, tendo que ser amenizado sempre que possível. As roupas devem ser leves(de algodão). O banho não pode ser demorado, nem com água quente e nem com excesso de sabonete. A exposição aos alérgenos (alimentos, inalantes, contactantes) sabidamente causadores da erupção deve ser desencorajada.
HIDRATAÇÃO - O atópico tem a pele xerótica (seca). A hidratação da pele tem grande importância. Deve ser realizada logo após o banho, quando a mesma ainda se encontra úmida. Podem ser prescritos cremes à base de uréia a 10%, óleo mineral, lactato de amônio a 12%, e outros.
CONTROLE DO PRURIDO - Anti-histamínicos: de preferência os que promovem sedação, principalmente se a criança não está em fase escolar. A hidroxizina é uma das mais indicadas. Por vezes é necessário rodízio de drogas pelo aparecimento de taquifilaxia (tolerância). As formulações que contêm corantes devem ser prescritas com cautela. O uso desta medicação é, em geral , por tempo prolongado.
Corticosteróides tópicos: muito usados, inicialmente os de potência média, em geral sem ultrapassar 2 semanas de uso. Cuidados maiores com a potência do corticosteróide devem ser tomados quando em lactentes ou aplicados na face, na região das fraldas, nas pregas e em áreas muito extensas do corpo. Após esse período reduzir a potência do produto ou o número de aplicações diárias (de 2 para 1 vez ao dia).É importante a retirada gradual pelo risco de rebote mesmo na terapia tópica quando de uso prolongado. Neste tipo de tratamento também existe a chance de ocorrer taquifilaxia.
Corticosteróide sistêmico: de-ve ser evitado ao máximo já que seu emprego será, a princípio, por tempo prolongado e sua retirada é acompanhada, com freqüência, de rebote. Utilizado em casos extremos com retirada bastante lenta.
Ciclosporina: uso restrito aos casos muito extensos, em que a qualidade de vida não só da criança com a de seus familiares se encontra comprometida pela doença. Seu emprego na DA tem sido cada vez maior dada sua eficácia. O prurido tem resolução rápida. Exames prévios devem ser solicitados: hemograma, hepatograma, lipidograma, creatininemia, eletrólitos e ácido úrico séricos, EAS, parasitológico, radiografia do tórax, ultrassonografia renal. Avaliar o uso concomitante de outros medicamentos que possam interagir com a ciclosporina (por exemplo, a prednisona) aumentando ou diminuindo seu nível sérico. A dose inicial varia de 3-5 mg/kg/dia. Durante o tratamento são realizados exames de controle, dosagem da ciclosporinemia e avaliação da pressão arterial.
COMBATE À INFECÇÃO - É sabido que os pacientes com DA têm maior tendência à infecção cutânea de qualquer tipo. São também colonizados por Staphylococcus aureus, cujas toxinas podem agir como superantígenos desencadeando ou agravando as crises. Assim, a utilização de antibióticos na DA não se resume aos quadros explícitos de infecção cutânea. Eles devem ser empregados naqueles casos de piora súbita e naqueles que não melhoraram com as medidas convencionais (anti-histamínicos, corticosteróides tópicos, controle ambiental).
É importante garantir a essas crianças uma vida mais próxima do normal. Avaliar sempre os efeitos colaterais do tratamento empregado e relembrar a cada consulta as medidas mais simples, mas não menos importantes. O uso recente de imunossupressores na DA, embora possa causar espanto ou insegurança, vem sendo cada vez maior. Sem dúvida se faz necessário o conhecimento dos seus efeitos, os controles laboratorial e clínico e o manejo deles. Dessa forma estaremos colaborando para que esses pacientes possam ter junto às suas famílias, uma boa qualidade de vida.